André Ricardo Lucas VIEIRA
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023008, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.10121 11
Pergunto-me ainda hoje, por que, então, muitos professores não conseguem, ao longo
dos anos, aprimorar significativamente suas práticas profissionais? Ou então, por que
professores com muitos anos de experiência na docência não conseguem produzir um trabalho
pedagógico mais qualificado que outros com muito menos experiência? Não consigo conceber
a experiência associada à prática. Tomando para este estudo a concepção de Larrosa (2002, p.
23) sobre experiência, percebo que na educação ela está cada vez mais rara. A experiência exige
tempo e “na escola o currículo se organiza em pacotes cada vez mais numerosos e cada vez
mais curtos”. Enquanto professor, sou pressionado a lutar contra o tempo e a cumprir a ementa
proposta, trabalhar com uma velocidade cada vez maior para vencer a quantidade enorme de
conteúdos, o que, segundo Larrosa (2002), impede que a experiência aconteça.
Me lembro das vezes que precisei acelerar o conteúdo a ser trabalhando em sala de aula,
pois o fim do semestre/ano se aproximava e o programa da disciplina precisava ser encerrado.
As coisas pareciam que eram feitas abruptamente, muitas vezes sem “refletir sobre as
temporalidades e suas relações com as aprendizagens do sujeito” (VIEIRA, 2018, p. 73).
Mesmo preocupado com o ritmo de cada aluno, não havia tempo para se desenvolver estratégias
que potencializasse uma determinada aprendizagem.
Desde o mestrado quando me aproximei das discussões propostas por Pineau (2004)
sobre a multiplicidade de tempos, passei a entender que essa multiplicidade se singulariza em
cada estudante, pois reconheço que cada um deles possui uma competência temporal específica,
conjugada em primeira pessoa, “que dá ao sujeito a condição de desenvolver os processos de
aprendizagem com autonomia” (VIEIRA, 2018, p. 73).
Ao refletir sobre o meu próprio trabalho, tenho a possibilidade de discernir sobre uma
gama de elementos que podem me ajudar na elaboração e execução de outras estratégias e novos
comportamentos diante dos problemas. Com isso, ao deleitar-me com as leituras de Larrosa
(2002), passei a entender que a experiência não pode ser utilizada como um classificador, ou
seja, uma moeda de troca. Hoje, já consigo compreender que a experiência não tem nada a ver
com o saber acumulado pelo trabalho, e que por mais tempo de serviço que eu tenha como
professor, não significa que possuo a verdadeira experiencia, pois, para ter experiência é
necessário que algo me aconteça, me toque e não que as coisas simplesmente passem e
aconteçam, e isso requer: “interrupção, parar para pensar, olhar, sentir, suspender a opinião, o
automatismo da ação, cultivar a delicadeza, a atenção [...] dar-se tempo e espaço” (LARROSA,
2002, p. 25). Portanto, ser um sujeito da experiência significa ser um sujeito exposto, aberto,
sofredor, receptivo, submetido, padecente.