Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893 1
MASCULINIDADES EM “MUNDO ESTRANHO” - DISNEY E A REPRESENTAÇÃO
POSITIVADA PARA HOMENS NEGROS NÃO HETEROSSEXUAIS
MASCULINIDADES EN “MUNDO EXTRAÑO” - DISNEY Y LA REPRESENTACIÓN
POSITIVA DE LOS HOMBRES NEGROS NO HETEROSEXUALES
MASCULINITIES IN A “STRANGE WORLD” - DISNEY AND THE POSITIVE
REPRESENTATION OF NON-HETEROSEXUAL BLACK MEN
Andrey Gabriel Souza da CRUZ1
e-mail: andrey_gabriel.sdc@hotmail.com
Teresa Kazuko TERUYA2
e-mail: tkteruya@uem.br
Eliane Rose MAIO3
e-mail: ermaio@uem.br
Como referenciar este artigo:
CRUZ, A. G. S.; TERUYA, T. K.; MAIO, E. R. Masculinidades em
Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para
homens negros não heterossexuais. Nuances: Estudos sobre
Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-
ISSN: 2236-0441. DOI:
https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893
| Submetido em: 18/09/2023
| Revisões requeridas em: 23/10/2023
| Aprovado em: 24/11/2023
| Publicado em: 30/12/2023
Editores:
Profa. Dra. Rosiane de Fátima Ponce
Prof. Dr. Paulo César de Almeida Raboni
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá PR Brasil. Mestrando Bolsista Capes no Programa de
Pós-Graduação em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2022 --) na linha de Ensino, Aprendizagem
e Desenvolvimento Humano.
2
Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá PR Brasil. Aposentada pela Universidade Estadual de
Maringá e professora voluntária do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da
Universidade Estadual de Maringá-PR. Líder do Grupo de Pesquisa em Educação, Mídia e Estudos Culturais -
GPEMEC. Orienta teses e dissertações na área de Educação, especialmente nos seguintes temas: educação,
formação docente, estudos culturais.
3
Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá PR Brasil. Professora do Mestrado e Doutorado em
Educação - PPE, UEM. É Coordenadora do GT23: Gênero, Sexualidade e Educação, da ANPEd (2024-2025). É
líder do grupo de pesquisa CNPq, intitulado Núcleo de Estudos e Pesquisas em Diversidade Sexual - NUDISEX.
Masculinidades em “Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para homens negros não heterossexuais
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893 2
RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar as vivências e interações entre masculinidades
tendo como referencial um adolescente negro não heterossexual, o personagem Ethan Clade da
animação Disney “Mundo Estranho”. Dado os marcadores sociais que carrega, encontramos a
oportunidade de dialogar quanto à pluralidade de masculinidades presentes no corpo social,
embasando-nos em discussões sobre gênero, bem como uma discussão quanto aos impactos das
mídias na constituição de homens negros e não heterossexuais, utilizando dos campos dos
Estudos Culturais e dos Estudos da Cultura Visual. Como caminho metodológico, utilizamos o
conjunto de procedimentos analíticos que orientam investigações visuais PROVOQUE. Para a
organização do texto, inicialmente dialogamos sobre construção identitária, seguido da
apresentação do objeto de análise e um aprofundamento nas questões de gênero,
masculinidades, raça e sexualidade, para posteriormente, analisar dois recortes de cenas do
filme. Finalizando a escrita contemplando a potencialidade da representação positivada de um
corpo tido como dissidente.
PALAVRAS-CHAVE: Masculinidade. Negritude. Sexualidade. Estudos Culturais. Disney.
RESUMEN: El objetivo de este artículo es analizar las experiencias e interacciones entre
masculinidades, tomando como referencia a un adolescente negro no heterosexual, el
personaje Ethan Clade de la animación de Disney Strange World”. Dados los marcadores
sociales que conlleva, encontramos la oportunidad de discutir la pluralidad de masculinidades
presentes en el cuerpo social, a partir de discusiones sobre género, así como una discusión
sobre los impactos de los medios de comunicación en la constitución de personas negras y no
heterosexuales hombres, utilizando los campos de Estudios Culturales y Estudios de Cultura
Visual. Como camino metodológico utilizamos el conjunto de procedimientos analíticos que
guían las investigaciones visuales de PROVOQUE. Para organizar el texto, se discutió
inicialmente la construcción de la identidad, seguido de la presentación del objeto de análisis
y una mirada más profunda a cuestiones de género, masculinidades, raza y sexualidad, para
luego analizar dos cortes de escenas de la película. Terminar el escrito contemplando el
potencial de la representación positiva de un organismo considerado disidente.
PALABRAS CLAVE: Masculinidad. Negritud. Sexualidad. Estudios culturales. Disney.
ABSTRACT: This article aims to analyze the experiences and interactions between
masculinities using as a reference point a non-heterosexual black adolescent, the character
Ethan Clade from the Disney animation "Strange World". Given the social markers he carries,
we find an opportunity to discuss the plurality of masculinities present in the social body,
grounding ourselves in discussions about gender, as well as a discussion about the impacts of
media on the formation of black and non-heterosexual men, using the fields of Cultural Studies
and Visual Culture Studies. As a methodological approach, we employ the set of analytical
procedures that guide visual investigations PROVOKE. To organize the text, we initially
discuss identity construction, followed by the presentation of the object of analysis and a
deepening into issues of gender, masculinities, race, and sexuality, to subsequently analyze two
scenes from the film. We conclude the writing by considering the potentiality of the positive
representation of a body seen as a dissident.
KEYWORDS: Masculinity. Blackness. Sexuality. Cultural Studies. Disney.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya e Eliane Rose Maio
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893 3
Introdução
Tratar de identidade, pautado em uma perspectiva pós-moderna, implica em lidar com
a ideia de “diferenças” e representações. A compreensão de que em sociedade, aqueles(as) que
nos cercam podem ser semelhantes, ou constituídos(as) a partir da alteridade, explicita-nos
como as identidades são compostas por intercruzamentos e intersecções diversas, construindo
“outros(as)”. Em sociedades que hierarquizam corpos e delimitam vivências, compreendemos
como os marcadores sociais que compõem as identidades, desembocam em vantagens ou
desvantagens na vida cotidiana. Em outras palavras, nossos marcadores sociais, raça, gênero,
sexualidade e afins, para além de nos constituir enquanto indivíduos, são influenciadores sobre
a trajetória e vivência social de cada pessoa. Comunidades/culturas patriarcais, machistas,
racistas e LGBTIfóbicas
4
, como a brasileira, evidenciam quais corpos encontram espaços,
positividade na representação e acessos para uma vida plena assegurada de direitos básicos e
fundamentais, consequentemente, delimitam-se também quais corpos estão fadados a serem
interpelados por mazelas e de certa forma, descartados e marginalizados, e tais mazelas podem
ser consequência da subordinação de um marcador social inferiorizado, ou a
convergência/intersecção de inúmeros. Como explicita a pesquisadora afro-estadunidense
Kimberlé Crenshaw (2002, p. 177) sobre a convergência das opressões, que fora nomeado como
interseccionalidades, “[...] é uma conceituação do problema que busca capturar as
consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação”.
Compreendendo a hierarquização social das existências, este artigo, tem por objetivo
analisar as vivências e interações experienciadas pelo personagem Ethan Clade da animação
“Mundo Estranho”, lançada em 2022, com personagens masculinos. Visando dialogar sobre a
ação da mídia na construção de masculinidades negras, as possibilidades de identificação com
a narrativa e a positivação de corpos sobrecarregados com eixos de subordinação. Caminhando
entre os campos dos Estudos Culturais, Estudos da Cultura Visual, Estudos Étnico-Raciais,
Gênero e Sexualidade. A intenção está em problematizar como as produções midiáticas atuam
enquanto pedagogias culturais, ora reforçando estereótipos racistas, LGBTIfóbicos e demais
4
Uso aqui o acrônimo na seguinte configuração: LGBTI. Com base na pesquisadora Jaqueline Gomes de Jesus,
entendemos a pertinência de detalhar o significado do acrônimo que se soma ao sufixo fobia, ao evidenciar e
denunciar as violências que atravessam tal grupo de pessoas em sociedade, para tornar mais objetivo o
entendimento sobre de quem estou me referindo. É válido ressaltar também que o acrônimo inclui categorias
distintas, sendo orientações sexuais e identidades de gênero. De forma sequencial, LGBTI refere-se a lésbicas,
gays, bissexuais, transgêneros/trans/travestis e intersexuais.
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opressões, ora, apresentando possibilidades de ser e existir para além de narrativas fixas,
limitantes e cruéis.
O pesquisador brasileiro Silvio Almeida (2019) explica que a mídia comporta uma
parcela significativa de responsabilidade sobre a construção e dispersão de imaginários e
categorização dos corpos, no que tangem as questões raciais. Ele expressa como os estereótipos
recorrentes que atravessam corpos negros, foram (e ainda são) fomentados em produções
audiovisuais.
O racismo constitui todo um complexo imaginário social que a todo momento
é reforçado pelos meios de comunicação, pela indústria cultural e pelo sistema
educacional. Após anos vendo telenovelas brasileiras, um indivíduo vai acabar
se convencendo de que mulheres negras têm uma vocação natural para o
trabalho doméstico, que a personalidade de homens negros oscila
invariavelmente entre criminosos e pessoas profundamente ingênuas [...]
(ALMEIDA, 2019, p. 65).
Almeida (2019, p. 65) reforça como a dia e as representações dispersas na/pela cultura
visual operaram/operam como ferramentas para a naturalização de ações e pensamentos
discriminatórios e racistas sobre corpos negros, (de)limitando significados e posições de sujeito.
Na construção das identidades na pós-modernidade, observa-se como as interferências
culturais, históricas e sociais assumem papel significativo (se não central) na dinâmica do ser.
Nos Estudos Culturais, o britânico-jamaicano Stuart Hall (2020, p. 11) expressa como “a
identidade torna-se uma celebração-móvel: formada e transformada continuamente em relação
às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais, logo, a
mídia enquanto produto cultural, como Almeida (2019) expressa, influencia tanto nossas
formas de ser, agir e pensar, sendo uma das instituições sociais que ditam e ensinam os moldes
que cercam raça, gênero e sexualidade.
Há, portanto, uma urgência em analisar as produções midiáticas, uma vez que estas
criam e dispersam representações e posições idealizadas de sujeitos, predominantemente por
grupos hegemônicos. A necessidade do desenvolvimento de uma maior criticidade perante o
que é consumido se prova na medida que passamos a compreender como as narrativas ficcionais
moldam nossas percepções sobre aqueles(as) que nos rodeiam, assim como interferem em nossa
própria percepção sobre quem somos, o que podemos ser e os lugares que podemos ou não
ocupar.
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O racismo estabelecerá a linha divisória entre os superiores e inferiores, entre
bons e maus, entre os grupos que merecem viver e os que merecem morrer,
entre os que terão a vida prolongada e os que serão deixados para a morte. E
que se entenda que a morte aqui não é apenas a retirada da vida, mas também
é entendida como a exposição ao risco da morte, a morte política, a expulsão
e a rejeição (ALMEIDA, 2019, p. 115).
Da mesma forma, o diálogo proposto por Almeida (2019), ao evidenciar questões
raciais, pode ser paralelo para compreendermos as adversidades e violências enfrentadas pelos
corpos femininos e pelas pessoas LGBTI, bem como por aqueles corpos que reúnem
marcadores socialmente marginalizados, sem a intenção de hierarquizar ou igualar as opressões.
Lidando com as construções identitárias, a ideia de representação encontra-se como
pilar estruturante deste artigo. O pesquisador francês caribenho de Martinica, Frantz Fanon
5
(2008), expõe como somos constituídos a partir das nossas diferenças. Divergências estas que
são denotadas por intermédio dos nossos múltiplos contatos em sociedade. Ao relatar sobre a
presença e o contato colonial de pessoas brancas com malgaxes (adjetivo que caracteriza o(a)
habitante da República Democrática de Madagascar, na costa sudeste africana, pessoas não
brancas), Fanon (2008) ressalta como a aparição desses(as) “outros(as), pessoas brancas,
corporificando a “diferença”, resultou em implicações sociais do povo nativo. “Se ele é
malgaxe, é porque o branco chegou, e se, em um dado momento da sua história, ele foi levado
a se questionar se era ou não um homem, é que lhe contestavam sua humanidade” (FANON,
2008, p. 94).
Como reforça Hall (2020, p. 12), identidade “[...] é definida historicamente, e não
biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades
que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente”, logo, reiteramos a importância da
avaliação das interferências históricas e culturais na composição das identidades, bem como as
intersecções de raça, nero, sexualidade, classe social, etnia, localidade e tantas outras
características que são pensadas e elaboradas no tempo e na cultura com imposições, restrições,
narrativas e estereótipos específicos. O que por vezes é entendido apenas enquanto advérbios
(marcadores sociais), na realidade operam e comportam delimitações, expectativas e
especificidades sobre os corpos, apresentando formas de ser, existir e agir no mundo.
5
É preciso salientar que as contribuições de Fanon (2008) são de grande valia nas discussões raciais, todavia, sua
trajetória também é atravessada de conclusões controversas quanto a homossexualidade negra, como se essa fosse
inexistente, sem homoafetividade entre homens negros, decorrente apenas da influência maléfica da branquitude,
existente para satisfação branca como mais uma via do racismo. A pesquisadora Megg Rayara de Oliveira (2020,
p. 94) apresenta-nos tais discussões ao trabalhar Frantz Fanon. Entretanto, é válido frisar que aquilo que
entendemos enquanto um “deslize” no pensar sobre minorias, não anula ou invalida o saber produzido e distribuído
quanto as questões raciais.
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As características que encontram espaços nos seres, manifestando diversidade e
pluralidade na existência, em uma perspectiva pós-moderna, enfatiza como cada pessoa não é
constituída a partir de uma lógica meramente essencialista, mas sim atravessada pela cultura,
em um processo construtivista e performativo. Haja vista que até a parte biológica é significada
e apresentada pela cultura e pelos saberes dispersos no social. De acordo com o antropólogo
brasileiro Roque de Barros Laraia (2001), nossas características sociais transpõem e rompem
com nossa biologia. Dialogando sobre os indivíduos, o autor expressa que “[...] seus
comportamentos não são biologicamente determinados. A sua herança genética nada tem a ver
com as suas ações e pensamentos, pois todos os seus atos dependem inteiramente de um
processo de aprendizado” (LARAIA, 2001, p. 20).
Assim, mais uma vez, somos direcionados(as) à preocupação com as mídias e as
imagens, que ao representarem as existências, ensinam formas de ser, agir e pensar. A
pesquisadora brasileira Giane Rodrigues de Souza Andrade (2021), reforça-nos a noção de
Pedagogias Culturais, compreendendo que o aprender e ensinar não está restrito aos ambientes
e instituições entendidas como “educacionais”. As imagens, produções artísticas, cinema,
publicidade, brinquedos, músicas, rituais religiosos e outras expressões culturais, imersas em
visões ideológicas na cultura, passam a ensinar comportamentos e delimitar posições de sujeito.
Dessa forma, no contexto em que vivemos não é possível ignorar os diferentes
espaços de ensino e aprendizagem que vão além dos muros da escola, pois
proporcionam informações e múltiplos conhecimentos, contribuindo para a
divulgação de estereótipos e a construção de identidades (RODRIGUES,
2020, p. 266).
Longe da perspectiva essencialista e biologizante, e imersa na compreensão das
interferências históricas, sociais e culturais na construção das identidades e dos indivíduos,
enquanto concebemos os corpos que contemplamos em sociedade, entendemos o quanto somos
enxertados(as) com posturas e performances ditas como adequadas” para cada corpo, sendo
posturas dicotômicas e binárias, que indicarão/devem indicar e delimitar o que é e como o corpo
há/pode ser. Como expressa a australiana Raewyn Connell, (1995, p. 190), “[...] toda cultura
tem uma definição da conduta e dos sentimentos apropriados para os homens. Os rapazes são
pressionados a agir e a sentir dessa forma e a se distanciar do comportamento das mulheres, das
garotas e da feminilidade, compreendidas como o oposto.
Connell (1995) dialogando sobre gênero, expõe como a sociedade condicionou a
performance do masculino em oposição ao feminino, podendo ser alocado nas mais diversas
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intersecções. A partir do pesquisador estadunidense Douglas Kellner (2001), compreendemos
as sociedades contemporâneas, ocidentais e capitalistas, pautadas no estabelecimento do ser
hegemônico, que há de representar o imaginário coletivo do que é humanidade, bem como do
que é positivo e valorizado. Segundo o autor,
[...] para a ideologia, porém, o “eu”, a posição da qual a ideologia fala, é
(geralmente) a do branco masculino, ocidental, de classe média ou superior;
são posições que veem raças, classes, grupos e sexos diferentes dos seus como
secundários, derivativos, inferiores e subversivos (KELLNER, 2001, p.83).
Deste modo, ao passo que a sociedade cria e estabelece quais os critérios para ocupar o
lugar da hegemonia, evoca a criação simultânea de toda a divergência/diferença e os lugares
pelos quais estes corpos podem circular e ocupar. Sendo aqui válido indagar: diferente em
relação a quem? Assim, torna-se perceptível a existência de condutas para todas as pessoas em
sociedade, bem como características que devem ser seguidas para o acesso a direitos básicos,
que como não chegam a todas as pessoas, tornam-se privilégios. Como exemplo, a condição
masculina em sociedades patriarcais e machistas, conforme mencionado anteriormente,
proporciona mais privilégios. No entanto, ao adotarmos uma perspectiva interseccional,
questionamos para qual tipo de homem esse padrão e posição hegemônica são direcionados, e
quais benefícios esse condicionamento proporciona para alguns em detrimento de “outros/as”.
Homens não brancos, não cis e não héteros recebem da mesma “definição de conduta” e gozam
dos mesmos privilégios que homens brancos nessas sociedades patriarcais, racistas e
LGBTIfóbicas?
O escritor inglês-congolês Bola (2020, p. 115), apresenta-nos como a definição e o que
se espera do “homem” pode ser diferenciada a partir de intersecções, como a racialidade.
Segundo o autor, “[...] aos homens negros, é sempre reservada uma associação estereotípica de
‘mano’, ‘da quebrada’ ou de bandido, uma figura relacionada às drogas e ao crime”. Enquanto
dos homens brancos, se espera liderança, bom caráter, governo, força e tudo que pode ser/é
positivado em sociedades. Assim, as posições e expectativas temidas socialmente, os lugares
limitantes e marginalizados são endereçados aos corpos negros, aqui com a intersecção de
serem também masculinos, e a positividade e boas qualidades, destinadas à branquitude. Deste
modo, dialogar sobre a constituição das identidades e as performances dos indivíduos em
sociedade implica avaliar constantemente as intersecções que atravessam os corpos.
O artigo em questão, idealizado e estruturado a partir de uma pesquisa com
delineamento bibliográfico e documental, tem como aporte teórico, já supracitado, os Estudos
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Culturais, Estudo da Cultura Visual, Estudos de Gênero e Racialidade. Considerando como a
interseção entre diversos campos de estudo proporciona uma ampla problematização em relação
à formação das identidades e suas representações, que impactam os corpos na esfera social,
surgem tanto possibilidades de existência quanto negações, carregadas de estereótipos e
estigmas.
Tendo como objeto de análise o personagem Ethan Clade, um dos protagonistas da
animação produzida pela Walt Disney, “Mundo Estranho” (2022), debruçamo-nos em
investigar duas cenas de interações entre masculinidades, evidenciando como são elaboradas as
narrativas que exprimem a não heterossexualidade
6
do personagem, apresentado também como
um adolescente negro, filho de um casal interracial. Utilizar-se de uma obra midiática produzida
pelos Estúdios Disney, endereçada as crianças (público livre), com uma proposta de
diversidade, ressalta a preocupação de como as imagens e toda cultura que estas exprimem são
pedagógicas. Segundo a pesquisadora brasileira Teresa Kazuko Teruya (2008, p. 5), as
crianças de diferentes culturas vão se apropriando do conteúdo midiático para formar a
identidade e a subjetividade derivada das diferentes identidades que se mesclam e se tornam
híbridos”.
O pesquisador estadunidense Henri A. Giroux (2013, p. 136), discorre como as
produções Disney, sejam filmes, livros, parques e afins, “produzem uma série de identificações
que, incansavelmente definem os Estados Unidos como branco, de classe média e
heterossexual”. Ainda que a análise desenvolvida pelo pesquisador seja imersa em uma
percepção datada na década de 90, e atualmente observamos mínimas transformações nas
narrativas audiovisuais e imagéticas da marca Disney, compreendemos a importância da
avaliação dos desenvolvimentos dos(as) personagens que performam e materializam
diversidade, problematizando assim para garantir que não estejam recorrendo e sendo
produzidos a partir de estereótipos, propagando e perpetuando na atualidade preconceitos. “A
aparência de aventura feliz e inocência infantil, embora atraente, encobre, neste caso, um
universo cultural amplamente conservador em seus valores, colonial em sua produção de
diferenças raciais e classe média em sua descrição dos valores familiares” (GIROUX, 2013, p.
6
Definimos o personagem como “não heterossexual” com o intuito de não invisibilizar outras sexualidades
contidas no acrônimo, pensando por exemplo em homens gays e bissexuais. Haja vista que a narrativa apenas
informa que Ethan Clade, um menino cis, é apaixonado por outro menino cis. Logo, não necessariamente é um
jovem gay, pois não se declara assim, podendo ser bissexual ou demais orientações sexuais que configurem a partir
da relação de duas pessoas do mesmo gênero.
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136). Esta afirmação nos indaga então o quanto se transformou nas narrativas imagéticas
Disney.
Quanto à organização deste texto, estruturamos da seguinte maneira: em um primeiro
momento, apresentamos nosso objeto de análise, isto é, o personagem Ethan Clade, desde a
representação imagética, traços, fenótipos, personalidade, marcadores sociais evidenciados,
bem como uma síntese da narrativa fílmica. Nesse momento também evidenciamos nosso
aporte teórico, dando ênfase para conceitos e debates produzidos no bojo dos Estudos Culturais,
com Hall (2016), Tomaz Tadeu da Silva (2014), e outras(os); Estudos da Cultura Visual e
Estudos das Masculinidades com Irene Tourinho e Raimundo Martins (2011), Luciana
Gruppelli Loponte (2010), João Paulo Baliscei (2021), Raewyn Conell (1995), Luciana Borre
Nunes (2010), Bell Hooks (2019), Jaqueline Gomes de Jesus (2012) e outras(os).
Lidando com masculinidades, trazemos em cena o conceito de Políticas da
Masculinidade (CONNELL, 1995), que nos possibilita o caminho para a discussão sobre
Masculinidade Subordinada e Marginalizada, evidenciando a interseccionalidade. Logo, no
segundo momento, ampliamos o debate evidenciando mais intersecções, oportunizando espaço
para diálogos quanto às questões étnico-raciais e sexualidade. Dado isto, o afunilar das
discussões, desemboca em um aglutinado de informações e conceitos que propiciam uma
análise midiática sublinhada por questões de raça, gênero e sexualidade, marcadores acessados
para compor o terceiro momento, em que apresentamos a metodologia de análise de imagem
adotada por nós, o conjunto de procedimentos que orientam investigações visuais críticas e
inventivas, denominado PROVOQUE (BALISCEI, 2020), e assim retomamos o objeto de
análise, o personagem Ethan Clade, para atribuir-lhe caráter analítico em duas cenas do filme,
discutindo a interação entre corpos de raças e sexualidades diferentes. Para finalizar o artigo,
em nossas considerações finais, indicamos como personagens dissidentes, como Ethan Clade,
apresentados com ‘naturalidade’ e certa ordinariedade, podem desestabilizar e romper com
formas recorrentes e estereotipadas nas representações de indivíduos masculinos negros e não
heterossexuais.
Masculinidades em “Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para homens negros não heterossexuais
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Ocupando esse “Mundo Estranho” – Caminhos Teóricos e Campos de Estudos
O objeto de análise selecionado para este artigo trata-se do personagem Ethan Clade,
um adolescente negro, não heterossexual, tido como o primeiro protagonista negro e
LGBTQIAP+ produzido pela Walt Disney Animation Studios. O personagem encontra-se em
uma narrativa animada nomeada/traduzida como Mundo Estranho”, lançada no segundo
semestre de 2022 com classificação livre para todas as idades. A animação narra a história de
uma família de exploradores/fazendeiros, os Clades, que se aventuram em um novo mundo para
solucionar os problemas do local que habitam, Avalon, um lugar fictício. A produção da Walt
Disney Animation Studios, contou com a participação de nomes renomados e premiados, como
Don Hall, diretor, (vencedor do Oscar de Animação em 2015) e Qui Nguyen, diretor e roteirista.
A história do longa-metragem se basicamente na descoberta de um mundo novo, vibrante
em cores e em vida. É esse lugar que ambienta a problemática principal do filme, as intempéries
geracionais que atravessam a relação de três homens da família Clade: Jaeger Clade, um homem
branco idoso, tido como heterossexual, pai de Searcher Clade, também homem branco e tido
também como heterosseuxal e por fim, Ethan Clade, adolescente negro não heterossexual, filho
de Searcher com Meridian Clade, uma mulher negra e neto de Jaeger.
“Mundo Estranho” chega ao público consumidor após uma série de polêmicas
envolvendo os Estúdios Disney. Em 2022, outro filme produzido pela Disney apresentou
sutilmente a presença de outra personagem LGBTI em uma de suas animações, Alisha
Hawthorne, do longa-metragem Lightyear”. Ainda que seja entendida enquanto a primeira
apresentação
7
explicita de homossexualidade presente em uma animação da Disney, a
inexpressividade de tempo e desenvolvimento da personagem coadjuvante que se casa com
outra mulher na história do filme, tendo uma única cena de beijo (segundos), suscitou em
denúncias à companhia que estaria censurando personagens LGBTI, bem como financiando
projetos políticos
8
que feriam a comunidade LGBTI/queer.
As polêmicas envolvendo a empresa Disney, nos retomam as críticas de Giroux (2013),
enquanto enfatizava uma quase inexistência de personagens não brancos e não héteros nas
produções na década de 90. O que nos parece estar sendo alterado em 2022, haja vista que a
atual presidente da Disney General Entertainment, Karey Burke, prometeu um aumento
7
Na animação “Dois Irmãos” (2020), produção Pixar - subsidiária da Disney Studios - há “sutilmente” a menção
de um relacionamento lésbico quando a personagem feminina - policial ciclope chamada Spectre - fala sobre a
“filha de sua namorada”.
8
Leia mais sobre em: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/03/4992378-entenda-o-que-e-a-don-t-
say-gay-a-lei-anti-lgbtqia-financiada-pela-disney.html.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya e Eliane Rose Maio
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significativo de inclusão étnico-racial, de gênero e sexualidade nas produções da empresa.
Segundo a presidente, até o final do ano 50% dos personagens da Disney seriam LGBTI ou
então pertencentes a minorias raciais
9
. Nesse cenário conturbado com denúncias e
envolvimentos duvidosos da empresa, somos “presenteados(as) com a narrativa “Mundo
Estranho”, que nos oportuniza a discussão sobre raça, gênero e sexualidade, especificamente,
nos possibilita a problematização de uma masculinidade negra não heterossexual em produções
endereçadas para amplo público.
Delimitando masculinidades como campo de debate, deparamo-nos então com as
contribuições de Connell (1995). Todavia, antes de iniciar o detalhamento das masculinidades,
é mister entender a categoria gênero, que engloba então as masculinidades. Segundo a brasileira
Berenice Bento (2011, p. 550), gênero “é o resultado de tecnologias sofisticadas que produzem
corpos-sexuais”, em outras palavras, as formas de ser, agir, se portar, sentir, performar e se
apresentar em sociedade, são produções histórico-culturais impostas e ensinadas no corpo
social, ancorada em falácias que se fixam no biológico como tentativa de respaldar o que seria
adequado para cada indivíduo a partir de seus órgãos sexuais, sendo uma perspectiva ocidental.
A pesquisadora brasileira Jaqueline Gomes de Jesus (2012, p. 7) expressa que, “[...] desde
criança você foi ensinado(a) a agir e ter uma determinada aparência, de acordo com o seu sexo
biológico”, como supracitado, segundo Laraia (2001) os comportamentos, atos, ações,
pensamentos, e aqui acrescentamos as performances de gênero, são parte de um processo de
aprendizado, e quando limitado em uma lógica binária se define os seres apenas em duas
categorias, masculino e feminino (homens e mulheres).
Conforme apontado por Baliscei (2021), os corpos que vêm ao mundo são impactados
por projetos de masculinidade e feminilidade, dependendo da genitália revelada, por vezes,
meses antes de emergirem do ventre materno.
Ser menino e ser menina não são consequências espontâneas do existir no
mundo; pelo contrário, são resultantes de um projeto sutil que envolve ações,
reforços e advertências que, repetidamente, atravessam os corpos na tentativa
de fazê-los (estritamente) masculinos ou (estritamente) femininos
(BALISCEI, 2021, p. 29).
A condicionalidade, binária e estrita, naturalizada como sendo uma ação biológica,
apresenta comportamentos, posturas, lugares/posições de sujeitos, espaços e narrativas para os
9
Leia mais sobre em: https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-162947/.
Masculinidades em “Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para homens negros não heterossexuais
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corpos. A estratificação social, que também se baseia no gênero, delineia o ideal hegemônico
do corpo, suas ações e, consequentemente, identifica o que é considerado abjeto.
Falar de estrutura de relações de gênero significa enfatizar que o gênero é
muito mais que interações face a face entre homens e mulheres. Significa
enfatizar que o gênero é uma estrutura ampla, englobando a economia e o
estado, assim como a família e a sexualidade, tendo, na verdade, uma
importante dimensão internacional. O gênero é também uma estrutura
complexa, muito mais complexa do que as dicotomias dos "papéis de sexo"
ou a biologia reprodutiva sugeririam (CONNELL, 1995, p. 189).
Na hierarquia ideológica vigente, o homem branco, adulto, heterossexual de classe
média ou elevada, como apresenta Kellner (2001), ocupa o topo e nesta configuração social, se
beneficia de estar em um mundo pensado e projetado para que seu corpo goze de privilégios,
direitos básicos e fundamentais para uma vida plena. Pensar em masculinidades então, é
compreender que além da dicotomia discutida a partir de um binarismo nos conflitos de gênero,
é possível e necessário, encontrar e debater os conflitos e confrontos na pluralidade de ser
masculino. As sociedades patriarcais preconizam homens lhes garantindo poder social, político,
econômico e representativo com positividade, tudo isso em detrimento de outros(as), mas
seriam garantias em uníssono a todos os homens? A afro-estadunidense Bell Hooks (2019),
enfatiza como o patriarcado é estabelecido e pensado para homens brancos, logo, têm nítido o
corpo a qual de beneficiar, todavia, ainda assim, coapta corpos negros masculinos, sub-
representados, estereotipados e oprimidos pelo racismo no qual o patriarcado se ancora, pois de
alguma forma, respingos de seus benefícios podem chegar a tais corpos negros. Mas, até que
ponto o patriarcado abraça a pluralidade de homens e masculinidades?
Connell (1995), a partir do conceito de Políticas da Masculinidade, apresenta-nos como
a sociedade hierarquiza as masculinidades atribuindo locais e posições pelas quais os indivíduos
homens podem ou não circular. A autora elabora assim quatro concepções: Masculinidade
Hegemônica, acessada e performada por aqueles indivíduos que correspondem aos padrões
sociais e culturais idealizados para pessoas que no nascimento são designados como homens,
enraizados nos padrões estabelecidos e aprovados pela cultura em que está inserido, vê-se tal
masculinidade acessada por homens brancos (haja vista que a hegemonia é configurada na
branquitude), cishéteros, com afeições à virilidade, “autoridade” e atributos tidos como de
“homens de verdade” ; Masculinidade Cúmplice, sendo composta por homens que por mais que
não correspondam em fidedignidade aos padrões hegemônicos cobrados do topo da hierarquia
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social, firmam o patriarcado e compactuam com a estruturação da sociedade, pois são
beneficiados em inúmeros âmbitos.
Entendemos que as categorias de gêneros criadas e idealizadas em sociedade não apenas
ditam performances e formas de ser, são também responsáveis por alocar os corpos em lugares
imersos em privilégios, direitos, garantia de vida, saúde, segurança, emprego, possibilidade de
dignidade ou a abstenção desses acessos. A disparidade salarial de gênero evidencia como ser
homem cis branco oportuniza mais garantias para se estabelecer financeiramente. Os índices de
violência contra mulheres, evidenciam como ser homem cis branco garante mais segurança. Os
espaços de poder e influência monopolizados por homens cis brancos, denotam como o gênero
tem sido determinante para acessos, bem como raça. É preciso desconstruir falácias e ideias que
atribuem a organização social a um suposto inatismo e/ou aptidão de um grupo de pessoas sobre
outros(as).
É necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais,
mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas,
aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que
é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento
histórico. Para que se compreenda o lugar e as relações de homens e mulheres
numa sociedade, importa observar não exatamente seus sexos, mas sim tudo
o que socialmente se construiu sobre os sexos (LOURO, 1997, p. 21).
Assim, a manutenção e permanência das desigualdades se escoram em discursos
falaciosos que atribuem naturalidade e inatismo na configuração social e cultural dos
marcadores sociais, omitindo toda a construção dos indivíduos no coletivo.
Enquanto evidenciamos a sobreposição de um gênero em detrimento de outros, é
necessário adentrar-nos também em outras características identitárias que interseccionam as
masculinidades criando abismos maiores entre elas. As próximas duas masculinidades
destrinchadas por Connell (1995) são as que mais nos interessam neste artigo, haja visto os
estigmas e estereótipos que social e culturalmente as atravessam. Connell (1995) apresenta-nos
a Masculinidade Subordinada, e aqui a misoginia e a hipervalorização dos atributos designados
aos homens (hegemônicos) ganham novas proporções. Na Masculinidade Subordinada estão os
homens que se aproximam do que social e culturalmente é entendido e atribuído às mulheres/ao
feminino, logo, na lógica machista patriarcal, são características inferiores e inferiorizantes.
Para exemplificação, homens homossexuais estariam alocados na Masculinidade
Subordinada, indivíduos que sentem atração afetivo-sexual por outros do mesmo gênero, que
exprimem “feminilidade” na fala, nos movimentos do corpo e até no desempenhar de funções
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e profissões, na delimitação de atividades masculinas e femininas, até profissões são atribuídas
aos gêneros, tal como cores, como disse em vídeo a ex-ministra da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, Damares Alves, no ano de 2019, “meninos vestem azul e meninas vestem
rosa
10
”.
A Masculinidade Subordinada segue também sendo espaço de homens não
homossexuais, mas que não operam a partir dos mesmos padrões estabelecidos pela hegemonia
com agressividade, virilidade e impulsos sexuais. Homens pacíficos/não violentos,
metrossexuais
11
/vaidosos e cuidadosos, homens que não compartilham de ações, gestos,
prazeres e atitudes atribuídos ao masculino (sendo esportes, vestuários e comportamentos) são
também alocados na subalternidade das masculinidades, isso sempre levando em consideração
os espaços que estão e o contexto cultural que os circundam, pois ainda que as masculinidades
sejam delimitadas com ações e características excludentes, não são postos fixos, logo, o trânsito
entre elas é possível em alguns casos. Por exemplo, um homem branco cis gay declaradamente
misógino, estaria cooperando em cumplicidade com a hegemonia, ao mesmo passo que
intensifica sua opressão.
A repulsa ao feminino e a ênfase na superioridade do masculino padrão hegemônico,
nos direciona à produção da pesquisadora brasileira Megg Rayara Gomes de Oliveira (2017),
travesti negra, que nos relata os mecanismos de sobrevivência que utilizara na infância,
enquanto sujeita menino e afeminada. A compreensão da pesquisadora durante a
infância/adolescência sobre a repulsa ao feminino, ainda mais quando advindo de corpos
incumbidos de serem masculinos, fez com que Oliveira (2017) entendesse o que precisaria fazer
para tentar ter mínimos acessos e possibilidades de existência.
[...] tornei-me uma pessoa ainda mais introspectiva e tive certeza de que teria
trânsito limitado na sociedade e que a única possibilidade de conquistar algum
respeito seria adotando em público uma postura nos moldes da norma cis
heterossexual. No entanto, essa era apenas uma estratégia de sobrevivência e
não um ajustamento [...] (OLIVEIRA, 2017, p. 26).
Observamos então mais uma intersecção possível nas masculinidades, raça, sendo um
dos fatores determinantes no enquadramento da Masculinidade Marginalizada. Segundo
10
Leia mais sobre em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/03/em-video-damares-alves-diz-que-nova-
era-comecou-no-brasil-meninos-vestem-azul-e-meninas-vestem-rosa.ghtml Acesso em: 6 jan. 2023.
11
Segundo o brasileiro Wilson Garcia (2004), pode-se definir a ideia de metrossexualidade como a designação
atribuída aos homens urbanos que expressam significativa preocupação com sua aparência e denotam uma vaidade
elevada.
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Connell (1995), esta é constituída por homens com identidades étnico-raciais e
socioeconômicas destoantes da “norma” /hegemonia. Homens negros/não brancos, homens
pobres e aqueles que não compactuam ao ritmo de consumo capitalista. Aproximando-nos de
nossa realidade nacional, homens negros em significativa quantidade estariam “presos” à
masculinidade marginalizada por dois fatores elencados por Connell (1995), raça e renda, pois
segundo os dados do IBGE de 2022, a taxa de pobreza da população negra é até duas vezes
mais que da população branca
12
.
A Masculinidade Marginalizada se distancia de modo expressivo da Masculinidade
Hegemônica a qual o mundo tanto beneficia, o corpo negro masculino marginalizado lida com
os mais diversos estigmas e estereótipos que colocam em xeque não apenas a subjetividade
identitária, como também a própria existência. De acordo com o pesquisador brasileiro Adilson
Moreira (2019), a marginalidade na qual corpos pertencentes a grupos minoritários se
encontram alocados, é mantida pela assimetria de poder a qual os grupos identitários da
sociedade têm acesso, os dominantes (homens brancos cisheterossexuais de classe elevada),
operam com inúmeras estratégias de subjugação, e a construção de falsas generalizações sobre
minorias constrói o ilusório da inutilidade de alguns grupos para atuação na esfera pública. Os
“estereótipos não são meras percepções inadequadas sobre certos grupos de indivíduos. Eles
possuem uma dimensão claramente política, pois são meios de legitimação de arranjos sociais
excludentes” (MOREIRA, 2019. p. 59).
Os estereótipos que interceptam pessoas negras são diversos, e tangem o intelecto, a
sexualidade, a civilidade e afins, segundo Almeida (2019, p. 62), ainda que atualmente teorias
racistas estejam sendo desmoralizadas nos meios acadêmicos e nos círculos intelectuais que
as gestaram, na cultura popular ainda é possível ouvir sobre a inaptidão dos negros para certas
tarefas que exigem preparo intelectual, senso de estratégia autoconfiança [...]”. Hooks (2019),
trazendo sobre outra perspectiva cultural e geográfica, nos evidencia, mais uma vez, como
um intercâmbio de estereótipos e formas de opressão sobre pessoas negras. Segundo a autora,
na trajetória histórica dos Estados Unidos, homens negros foram lidos e taxados de
“preguiçosos”, “violentos”, “fracassados” e mais inúmeros adjetivos negativos. Almeida (2019,
p. 63) completa expondo que a utilização dos estereótipos serve como estratégia de
“racionalizar” as desigualdades, e podemos ampliar para além do campo racial, nessa
12
Leia mais sobre em: https://www.poder360.com.br/brasil/taxa-de-pobreza-de-pretos-e-pardos-e-duas-vezes-
maior-diz-
ibge/#:~:text=Entre%20pretas%20o%20percentual%20disparou,Brasileiro%20de%20Geografia%20e%20Estat
%C3%ADstica). Acesso em: 6 jan. 2023.
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naturalização das desigualdades com um teor “racional”, criam-se pensamentos de que há uma
inaptidão intrínseca nos corpos de pessoas negras, mulheres, pessoas com deficiência e pessoas
trans que as impedem de ocupar espaços de poder.
Embasado com a brasileira Carla Akotirene (2019, p. 19) entendemos que “a
interseccionalidade visa dar instrumentalidade teórico-metodológica à inseparabilidade
estrutural do racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado”, retomamos o destrinchar das
categorias de masculinidades que compõem nosso bojo teórico e voltamos os olhos novamente
ao objeto de análise deste artigo, o personagem Ethan Clade, adolescente negro e não
heterossexual. apresentadas as posições de masculinidades e a hierarquia que operam,
evidenciamos os motivos pelos quais a Masculinidade Subordinada e a Masculinidade
Marginalizada são bases para nossa análise, haja vista que Ethan Clade então opera entre elas.
Contemplando os estigmas e estereótipos que interpelam corpos homossexuais e negros
separadamente, não há como não nos preocuparmos quando estas opressões se interseccionam.
Como representar e positivar o corpo negro LGBTI de Ethan Clade? Como se darão as relações
com outros homens e a hierarquização entre as masculinidades? Se sexualidade penosamente
por vezes é escondida e omitida como “estratégia de sobrevivência” (Oliveira, 2017), como
esconder a pele escura que grita negritude e todos os atravessamentos que a interpelam?
Nada de estranho na negritude Enegrecer e Sorri
Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse
SIM!
“Que coisa é ser negra?”
Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
(Victória Santa Cruz, Me Gritaron Negra, 1960).
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A pesquisadora brasileira Joice Berth, expressa: “Não me descobri negra, fui obrigada
a sê-la” (RIBEIRO, 2019, p. 24)
13
. A frase proferida por Berth nos apresenta uma ponte de
encontro interessante ao poema “Gritaram-me negra” (nossa tradução), da peruana Victoria
Santa Cruz (1922-2014) aqui apresentado na epígrafe desta seção. “Fui obrigada a -la", mas
afinal, “Que coisa é ser negra?”. Para além dos fenótipos, traços negróides e atributos culturais,
ser negro(a) em sociedades racistas, é adquirir narrativas fixas e inferiorizantes, que alocam tais
corpos e sujeitos(as) em constante abjeção.
Quando criança, fui ensinada que a população negra havia sido escrava e
ponto, como se não tivesse existido uma vida anterior nas regiões de onde
essas pessoas foram tiradas à força. Disseram-me que a população negra era
passiva e que “aceitou” a escravidão sem resistência. Também me contaram
que a princesa Isabel havia sido sua grande redentora. No entanto, essa era a
história contada do ponto de vista dos vencedores, como diz Walter
Benjamim. O que não contaram é que [...] (RIBEIRO, 2019, p. 7).
O relato da pesquisadora brasileira, Djamila Ribeiro (2019), coincide com a narrativa
apresentada pela também pesquisadora brasileira Cida Bento (2022), ao relatar sobre o episódio
vivido pelo seu filho, de então 10 anos, na escola. Bento (2022) expôs o desejo da criança de
apartar-se das aulas de História cuja temática fosse escravidão, haja vista que a associação a
povos escravizados seria vista como vergonhosa por colegas.
[...] um colega de sala branco, que enquanto voltava para casa com Daniel,
apontou para alguns garotos negros limpando para-brisas no semáforo, em
troca de algumas moedas, e disse de maneira debochada: ‘Aqueles meninos
também são descendentes de escravos! É uma vergonha, né?” (BENTO, 2022,
p. 7).
As imagens e representações adquiridas na infância por Ribeiro (2019) e Daniel, filho
de Bento (2022), foram as mesmas, a associação simplista e rasa da população negra
unicamente atrelada à escravizados(as) (em decorrência da ação de pessoas brancas), pessoas
que foram retiradas de suas terras, que tiveram suas culturas usurpadas e defraudadas, suas
vidas abreviadas e suas histórias apagadas, para que assim construíssem um mundo branco em
que não as aceitam e que em muitos casos, sequer se envergonham ou geram constrangimento
13
Embora a citação expressa seja de Joice Berth, a frase encontra-se nos escritos de Ribeiro (2019), não sendo
apresentada enquanto citação direta e sem nenhum indicativo de ser uma afirmação escrita/documentada em outro
local, logo, optamos por não trazê-la enquanto apud.
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aos(às) seus(suas) descendentes (pessoas brancas da contemporaneidade) ao saberem que
muitos(as) de seus(suas) ancestrais foram escravistas e genocidas.
Mesmo depois de uma aula de história, em que o tema era escravidão, o
menino dizia que era uma vergonha ser descendente de africanos
escravizados. Mesmo depois de ouvir sobre as violências e os abusos
incessantes sofridos pelos negros, de ver retratos de navios negreiros
abarrotados de seres humanos em condições brutais, com o corpo marcado a
ferro, de ler que o trabalho que exerciam ao chegar ao Brasil era forçado, o
garoto branco disse que ser negro era motivo de vergonha (BENTO, 2022, p.
8).
Longe de querermos gerar um “peso” sobre nossos(as) contemporâneos(as) ou uma
“culpa em demasia” por algo que de fato não fora realizado por estes(as), todavia, a vivência
em sociedades racistas, beneficia aqueles(as) que são lidos(as) enquanto norma, sendo assim, a
responsabilidade para romper e desmantelar tal estrutura, deve ser assumida também como
parte desse reconhecimento histórico e posicionamentos antirracistas. O reconhecimento dos
pequenos privilégios que mudam e alteram nossa percepção sobre nós mesmos(as) e sobre os
outros/as torna-se fundamental. Um exercício básico da influência histórica em nossa
constituição e formação enquanto indivíduos e até mesmo em nossa subjetividade está no
reconhecimento de nossas origens. Não é incomum ouvirmos discursos de pessoas brancas que
evocam a trajetória familiar com orgulho e afeto, os(as) bisavós(as) e avós(as) imigrantes
europeus(ias) que vieram parar em terras brasileiras.
Deixando de lado toda a complexidade histórica dos fatos dos muitos(as) europeus(ias)
que receberam terras, incentivos e ajuda para se estabelecerem aqui, em detrimento de muitas
pessoas não brancas que aqui estavam e viveram subjugados(as) e saqueados(as). O
reconhecimento genealógico, étnico e cultural, não alcança muitas pessoas negras até hoje, que
apenas sabem suas origens pelos traços negroides, por vezes, pela pele escura, pelas texturas de
cabelos e pelas narrativas de abusos que atravessam as famílias.
A perda da história étnica, familiar e cultural, oferece riscos à construção da
subjetividade. Ainda mais enquanto se compete com narrativas que elevam alguns/algumas e
rebaixam “outros(as)”. Segundo a pesquisadora portuguesa Grada Kilomba (2019), estar
alocado compulsoriamente e constantemente no lugar de “outro(a)”, exime e expõe a negação
da existência, logo, atinge a subjetividade que é atravessada pela falta de status de sujeito.
Corpos negros e não brancos, constantemente apresentados enquanto outros(as) e diferentes,
lidam com a invalidação de suas representações, com a própria inexistência e a materialização
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daquilo que as pessoas brancas não querem associados a si e a sua racialidade (sendo válido
evidenciar que branco é raça), ainda que “pessoas brancas não costumam pensar sobre o que
significa pertencer a esse grupo [a branquitude], pois o debate racial é sempre focado na
negritude” (RIBEIRO, 2019, p. 31), no(a) “outro(a)”.
Toda vez que sou colocada como “outra” - seja a “outra” indesejada, a “outra”
intrusa, a “outra” perigosa, a “outra” violenta, a “outra” passional, seja a
“outra” suja, a “outra” excitada, a “outra” selvagem, a “outra” natural, a
“outra” desejável ou a “outra” exótica -, estou inevitavelmente experienciando
o racismo, pois estou sendo forçada a me tornar a personificação daquilo com
que o sujeito branco não quer ser reconhecido. Eu me torno a/o “Outra/o” da
branquitude, não o eu - e, portanto, a mim é negado o direito de existir como
igual (KILOMBA, 2019, p. 78).
A não possibilidade de se estabelecer como sujeito, como evidenciado por Kilomba
(2019), faz com que as pessoas não brancas tenham acessos dificultados nas interferências
sociais e políticas, e a partir da lógica racista, que estabelece a partir da “diferença” uma
hierarquia social, as narrativas e representações de pessoas não brancas foram e são visadas e
idealizadas pela branquitude que se estabelece como norma. Kilomba (2019, p. 79) expressa
cinco formas pelas quais o sujeito negro é entendido e evidenciado como“outro”, sendo pela
infantilização, que cria a ideário de que serem pessoas dependentes; pela primitivização,
associado a selvageria e natureza; pela Incivilização, identificado como pessoas violentas e
ameaças à sociedade; pela Animalização, personificando o animal, selvagem e primata; por fim
pela Erotização, na hipersexualização e instintos sexuais. A partir de tais formas, aqueles(as)
que detêm a possibilidade de criar narrativas e representações, constroem imaginários que se
fixam no social. Não obstante, ver-se apenas enquanto escravizado na história, transpõe a
exposição da triste e cruel realidade que atravessa a negritude, mas opera por vezes como
apresentação da subalternidade que tenta coaptar corpos negros constantemente.
Tendo as mídias e as imagens como propiciadores e dispersores de estereótipos e
preconceitos, a limitada representação de pessoas negras no imagético, não apenas cria uma
visão de superioridade da branquitude pela branquitude, mas é tamanho seu impacto que invade
a subjetividade de pessoas negras e é absorvida por tais corpos. Eduardo Galeano (2006, p.
154), pesquisador uruguaio, ao falar sobre a percepção latino-americana sobre si, escreve: “tal
espelho enganador que ensina às crianças latino-americanas a se olharem com os olhos daqueles
que as desprezam, e as condiciona a aceitar como destino uma realidade que as humilha”, de
modo semelhante, senão igual, a perpetuação de estereótipos racistas nas inúmeras produções
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que nos interpelam, seja na mídia, nas imagens, nos livros didáticos, no ensino e nos mais
diversos lugares, operando em teores políticos e pedagógicos, culminam em uma ótica
corrompida e inferiorizante.
Enquanto pensamos em racialidade e evidenciamos negritude, torna-se necessário trazer
à tona que ainda que a negritude seja experienciada e vivenciada apenas por pessoas negras, ela
não é concebida em exclusividade por tais. As interferências políticas, sociais, culturais e
históricas aqui evidenciadas, expõe como as identidades de pessoas negras são
constantemente interpeladas por estereótipos racistas criados e consolidados pela branquitude
como estratégia de dominação. Logo, enquanto falamos de negritude, pessoas brancas precisam
compreender a estruturação de sua racialidade idealizada historicamente em detrimento de
outras.
Muitas pessoas brancas atuantes na luta antirracista hoje conseguem
reconhecer que todos os brancos (assim como todos dentro de uma cultura
supremacista branca) aprenderam a supervalorizar a “branquitude”, assim
como aprenderam a desvalorizar a negritude (HOOKS, 2019, 50).
A constituição da negritude é marcada por inúmeros percalços penosos, dolorosos,
imersa em estereótipos racistas, limitantes e estratégias de dominação e subordinação, fica mais
nítido como, em contrapartida, a branquitude é idealizada na positividade e valorização. De
certo modo, por vezes, falar sobre negritude evoca falar sobre dores e pesares, todavia, devemos
pensar em outras maneiras de anunciar a racialidade negra para além dos estereótipos
recorrentes. Bell Hooks (2019) relata suas experiências em sala de aula com alunos(as) que
constantemente apresentavam-se mais interessados(as) em discutir o auto-ódio das pessoas
negras e a ânsia pela branquitude do que falar sobre as possibilidades de amar a negritude que
carregavam.
O que de fato é compreensível, haja vista que na maior parte do tempo, as narrativas
acessadas constantemente para trabalhar negritude são cruéis, seja a aula de História, que não
apresenta África ou as contribuições dos povos africanos negros para o mundo, mas apenas a
escravidão, sejam as narrativas fílmicas, imagéticas, jornalísticas que insistem em utilizar de
estereótipos na apresentação da negritude. “Em um contexto supremacista branco amar a
negritude’ raramente é uma postura política refletida no dia a dia, quando é mencionada, é
tratada como suspeita, perigosa e ameaçadora” (HOOKS, 2019, 47), amar a negritude além de
desafiador, pela busca de positividade nas narrativas, é “assustador”, pois seria o apoderar-se
de que é “outro(a) e marginalizado(a). “O racismo produziu uma autoimagem turva,
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya e Eliane Rose Maio
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prejudicando a mais fundamental capacidade de amar o amor-próprio.”, expressa o pesquisador
brasileiro Lucas Motta Veiga (2019).
Amar a negritude, como premissa exposta por Hooks (2019), em sociedades racistas, de
fato se depara com a dificuldade de lidar com o ódio (alheio), uma vez que se entender enquanto
uma pessoa negra, implica em compreender o quão suscetível seu corpo está a violências e
opressões. De acordo com dados do Atlas da Violência 2021 do Brasil, coordenado por Daniel
Cerqueira (2021), os corpos mais assassinados ainda são negros.
Em 2019, os negros (soma dos pretos e pardos da classificação do IBGE)
representaram 77% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios
por 100 mil habitantes de 29,2. Comparativamente, entre os não negros (soma
dos amarelos, brancos e indígenas) a taxa foi de 11,2 para cada 100 mil, o que
significa que a chance de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior àquela
de uma pessoa não negra. Em outras palavras, no último ano, a taxa de
violência letal contra pessoas negras foi 162% maior que entre não negras. Da
mesma forma, as mulheres negras representaram 66,0% do total de mulheres
assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes
de 4,1, em comparação a taxa de 2,5 para mulheres não negras (CERQUEIRA
et al., 2021, p. 49).
Amar a negritude, se choca com o medo de perder a vida, segundo o infográfico
elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 85,3 % dos homens negros temem
morrer assassinados, e 78,5% de homens brancos compartilham do mesmo medo. Cerca de
69,2% dos indivíduos pertencentes à comunidade negra expressam temor de se tornarem
vítimas de violência perpetrada pela Polícia Militar, em contraste com apenas 53,9% dos
homens brancos. Esse receio é sustentado pela constatação de que 84% das pessoas mortas em
decorrência de ações policiais são de origem negra. De acordo com os dados apresentados no
infográfico, no ano de 2021, mulheres negras representaram 52,2 % das vítimas de estupro e
estupro de vulnerável, foram 70,7% das vítimas de mortes violentas intencionais e 62% das
vítimas de feminicídio. Com uma diferença de 13,3%, mulheres negras sofrem mais assédio.
Amar a negritude torna-se complexo quando ela evidencia os pesares que atravessaram
os corpos. Veiga (2019, p. 147) ao debater sobre a importância de descolonizar nossa sociedade,
ressalta que
[...] descolonizar implica estilhaçar as velhas sedimentações culturais,
intelectuais e políticas e, mais do que resgatar, criar um senso de valor próprio
sobre si mesmo e sobre o povo ao qual se pertence. Pertencemos ao povo que
criou a matemática, a filosofia, a medicina, o samba, o jazz, o blues, o rap, o
funk, o vogue, o hip hop, as pirâmides do Egito […].
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Sem dúvidas muito para se amar na negritude, todavia, a estruturação social enraizada
no racismo, faz com que as experiências de racialização negra sejam interpeladas por muitos
pesares.
Passei por diversas ocasiões na adolescência e na vida adulta em que fui
parado pela polícia por parecer “suspeito”, ou por me encaixar em alguma
descrição, enquanto fazia coisas normais que as pessoas fazem todo dia, como
ir para casa ou caminhar até o mercado. As autoridades, assim como os civis,
tratam você com uma desconfiança extraordinária se você estiver ocupando
um espaço o qual não esperam sua presença (BOLA, 2020, p. 115).
A estruturação social enraizada no racismo dificulta o autoamor pela racialidade de
pessoas não brancas, faz com que as experiências de racialização negra sejam interpeladas por
muitos pesares. As representações midiáticas, os espaços destinados a pessoas negras, as
significações e narrativas atribuídas à população negra, criam barreiras para amar-se por
completo. Entretanto, as movimentações políticas, sociais e culturais, cada vez mais
desestabilizam o status quo, rompendo com visões estereotipadas e oportunizando
ressignificações para a negritude. Se a mídia e as imagens foram e são capazes de perpetuar o
racismo, hoje mais do que nunca, são tomadas também como ferramenta de resistência.
Produções seriadas, filmes e artistas com representações não estereotipadas de pessoas negras,
oportunizam possibilidades de (r)existência e construção da subjetividade da população não
branca.
Os pesquisadores brasileiros Andrey Gabriel Souza da Cruz e João Paulo Baliscei
(2021), problematizam o personagem negro, gay e afeminado Eric Effiong, da série Sex
Education, e evocam como a construção de um personagem acentuado por intersecções pode
ser constituído esquivando-se de inúmeros estereótipos, apresentando novas narrativas para
corpos que materializam diversidade.
[...] tratar de negritude está, infelizmente, bem engendrado a apresentar
pesares e sofreres, quando nos deparamos com as formas de representações de
Eric Effiong e passamos a ver certo apreço e amor à negritude, contemplamos
as possibilidades de reconhecimento e apresentação positivada que a produção
seriada pode desembocar no público de pessoas negras. Esse tipo de
representação também é necessário para o desenvolvimento de sujeitos
brancos que precisam aprender lidar e conviver com as dissidências, não lhes
atribuindo narrativas fixas, limitantes e estigmatizadas a partir de sua
racialidade ou de demais marcadores sociais (SOUZA DA CRUZ;
BALISCEI, 2021, p. 419).
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya e Eliane Rose Maio
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Analisando Ethan Clade, enquanto artefato cultural como possibilidade de
representação de negritude, não heterossexualidade e pedagogia cultural capaz de apresentar
formas de ser, pensar e agir, questionamo-nos se é possível contemplar um distanciamento dos
estereótipos criados e consolidados pela ideologia racista e homofóbica vigente, a ponto de
tornar o personagem referência possível de existência para as pessoas consumidoras. De acordo
com Teruya (2008, p. 6), “os filmes animados atuam como novas ‘máquinas de ensinar’ de
forma mais persuasiva, pois contam estórias atraentes que ajudam as crianças a compreenderem
a si mesmas em forma de entretenimento”, logo nos questionamos sobre os ensinamentos
possíveis com “Mundo Estranho”.
“Impressionar esse cara” - Masculinidades e Afetos> análises das interações entre
personagens masculinos
Compreendendo que as imagens transcendem a ideia pressuposta pelo senso comum, de
atuarem meramente enquanto entretenimento, quando, de acordo com pesquisadores(as) da
área, operam de forma pedagógicas sobre as pessoas, tornando-se capazes de representar,
ensinar, delimitar ações, modos de pensar, sentimentos e inúmeras interferências, denotamos a
importância na problematização das imagens para além de seu caráter estético e contemplativo.
O pesquisador espanhol Martín-Barbero (2000, p. 55) evidencia como “a escola deixou de ser
o único lugar de legitimação do saber, pois existe uma multiplicidade de saberes que circulam
por outros canais, difusos e descentralizados”, logo, estamos constantemente imersos(as) em
aprendizados que moldam a subjetividade e identidade das pessoas, e a criticidade perante a
mídia, se torna cada vez mais necessária, haja vista que ela está entre as responsáveis pela
circulação de saberes e ensinamentos.
A ampliação das formas de ver, problematizar e produzir conhecimento expandiram
com os Estudos Culturais, segundo a pesquisadora Luciana Borre Nunes (2010), as atribuições
deste campo de pesquisa cooperaram para a desestabilização de um único referencial nos
estudos da cultura, assim, os mais diversos grupos sociais minoritários puderam iniciar diálogos
e discussões sobre suas participações e atuações no corpo social em suas atribuições nas
diversas formas de ser e agir no mundo.
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Os Estudos Culturais apresentam como concepção primordial a discussão
sobre cultura. Estudam as manifestações culturais de grupos que tiveram, ou
ainda têm, por um longo período de nossa história, suas vozes silenciadas pela
supremacia de grupos considerados hegemônicos. Seus autores enfocam
questões referentes à constituição de identidades inseridas em sistemas de
representação. Também tratam das relações sociais imbricadas pelo poder e
dos artefatos e pedagogias culturais que contribuem para a nossa formação
(NUNES, 2010, p. 18).
Deste modo, ampliam-se os diálogos acerca das identidades constituídas a partir da
atuação e dos atravessamentos culturais. Os saberes que se imbricam aos Estudos Culturais,
como os estudos Étnico-Raciais, feministas, sobre gênero, masculinidades, diversidade sexual
e afins, foram também consolidando relevância, utilizando as imagens e as representações como
objetos e caminhos epistêmicos, haja vista ação construtivista que comportam.
Assim, o compartilhamento de sentidos e significados culturalmente construídos, é
campo investigativo amplo e necessário, ainda mais quando se evidencia o monopólio por
grupos hegemônicos e as lutas constantes pelos significados atribuídos às imagens, pessoas e
afins. Segundo Hall (2016, p. 31), representação é uma parte essencial do processo pelo qual
os significados são produzidos e compartilhados entre os membros de uma cultura. Representar
envolve o uso da linguagem, de signos e imagens que significam ou representam objetos”. As
representações então são enraizadas e transbordam visões culturais, logo, nos cabe questionar
a partir de qual lente se tem produzido tais representações, qual a lente está “universalizada” na
sociedade para que as pessoas decodifiquem e signifiquem em uníssono,
Uma das contribuições mais importantes trazidas pelo debate instituído pelos
Estudos Culturais, Estudos da Cultura Visual e dos Estudos Feministas aos
nossos modos de ver e interpretar imagens artísticas, é o quanto essas imagens
não podem ser vistas simplesmente como “reflexo” ou “comunicação” do que
acontece no mundo, elas estão continuamente, constantemente, produzindo
significados para este mundo, tendo efeitos diretos em nossas práticas
cotidianas e, mais especificamente, em como vivemos e percebemos nossas
próprias identidades sexuais e de gênero (LOPONTE, 2010, p. 153).
A partir desse aglutinar de campos de estudos, caminhamos para uma análise de duas
cenas da produção animada “Mundo Estranho” com enfoque na relação de Ethan Clade com
outros personagens masculinos brancos. Como aporte metodológico, utilizamos dos
procedimentos analíticos, denominado PROVOQUE, Problematizando Visualidades e
Questionando Estereótipos (BALISCEI, 2020). As proposições advindas do PROVOQUE, que
se estrutura também a partir dos Estudos da Cultura Visual e Estudos Culturais, orientam um
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caminho que o autor intitula como “investigações visuais críticas e inventivas” (BALISCEI,
2020, p. 62). De semelhante modo, Tourinho e Martins (2011) preconizam uma visão crítica
perante o que observamos que se opõe a uma visão acomodada e passiva a tudo, intitulada visão
tácita.
Em conformidade com PROVOQUE (BALISCEI, 2020), o artefato cultural
selecionado, a animação “Mundo Estranho”, e mais especificamente o personagem Ethan
Clade, é analisado com criticidade e problematizações embasadas a partir do aporte teórico dos
estudos sobre raça, gênero e sexualidade. O conjunto analítico, nos direciona a busca por
estereótipos nas animações, não apenas no que tange à construção imagética dos personagens,
mas também quanto as expectativas sobre os corpos negros e masculinos.
Tendo compreensão das vivências em uma sociedade estratificada
14
e hierarquizada,
bem como a recorrência de certas representações, ainda mais de corpos ditos como dissidentes,
relações e performances, buscamos e problematizamos com/em Ethan Clade a presença,
apresentação ou flertes com estereótipos. Conforme explica João Paulo Baliscei (2020, p. 69),
a partir dos estereótipos, as “[...]representações visuais simplificam as diferenças, ajustando-as
conforme os valores, estéticas e interesses hegemônicos e contribuem para constituir fronteiras
simbólicas a partir dos quais ‘abjeto’ é separado da 'norma'''.
O PROVOQUE, metodologia utilizada, apresenta-se como uma “pré-rota” para o
desenvolvimento de problematizações perante imagens, oportunizando indicativos de
“paradas” nas quais podemos exercitar a criticidade mediante o que nos interpela visualmente
e pela narrativa. Estruturado em cinco etapas: Flertando, Percebendo, Estranhando, Dialogando
e Compartilhando. Os pontos conectam e oportunizam uma análise visual que contempla as
diversas atuações discursivas que a produção possa ter (BALISCEI, 2020). Flertando com o
personagem Ethan Clade, encontramos atravessamentos interseccionais que nos despertam
interesse na análise da construção de sua narrativa na animação. Apresentado no masculino,
enquanto adolescente negro, não heterossexual, explorador, ecologista, Ethan lida e expõe seus
sentimentos com uma aparente naturalidade e “inaptidão” juvenil de quem está apaixonado,
aqui, por outro menino, nos possibilitando de início notar afastamentos de estereótipos
recorrentes nas representações de homens jovens negros, como Bola (2020) evidência.
14
A produção “Mundo Estranho” (2022), da Walt Disney, é de origem estadunidense, é imprescindível influências
culturais do norte global. Todavia, a globalização e os hibridismos culturais, nos possibilitam análises a partir de
perspectivas decoloniais. O “intercâmbio” entre opressões oportuniza que possamos dialogar sobre violências sob
perspectivas culturais diferentes. Ressaltamos também como o filme inaugura uma sociedade nova e diferente,
Avalon.
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No que tange às visualidades físicas e as tecnologias que denotam gênero, como
vestimentas, percebemos como Ethan Clade não é constituído a partir de visualidades que
poderiam ser lidas como “atípicas” à masculinidade hegemônica (CONNELL, 1995), tirando
nitidamente sua cor de pele, traja roupas e cores associadas constantemente ao masculino.
sua não heterossexualidade nos intensifica o flerte com o personagem, que além de
corresponder aos nossos interesses de lidar com negritude, masculinidade marginalizada,
enquadra-se também na Masculinidade Subordinada (CONNELL, 1995) pelo seu interesse
romântico pelo coadjuvante Diazo (menino de topete e cabelos brancos apresentado na Figura
1), outro adolescente não branco e não heterossexual na narrativa.
A aparição de Diazo, a qual Ethan tem interesse romântico, nos oportuniza o primeiro
recorte de cena a ser analisado. De acordo com Baliscei (2020), em PROVOQUE, aquilo que
desestabiliza ou se difere dos estereótipos recorrentes pode ser capaz de suscitar estranhamentos
e gerar perguntas. A interação entre 3 personagens masculinos presentes no compilado de cenas
na Figura 1, oportunizam o apenas uma avaliação visual, sobre uma pluralidade de
tonalidades de peles, mas também traz uma naturalidade do trato com um afeto homossexual.
Ao deparar-se com o garoto que seu filho é apaixonado, Searcher Clade, homem branco, em
uma narrativa divertida, utiliza seu tempo em cena conversando com o rapaz falando dos
atributos positivos de seu filho Ethan, como em uma estratégia de ajudar com que ele conquiste
o amado.
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Figura 1 - Composta por 9 Print Screens
Fonte: Print Screens da animação “Mundo Estranho” (2022), referente as minutagens aproximadas
entre 11’00’’ e 12’10’’ localizados na plataforma de streaming Disney Plus.
Focando em Searcher Clade, frisamos sua racialidade, sendo uma pessoa branca, assim,
torna-se válida evidenciar novamente como Ethan Clade é resultado de uma relação interracial
entre Searcher e Meridian Clade, uma mulher negra. A aparição de Seacher na cena e seu
contato com os jovens não brancos, no que tange às relações de masculinidades, de imediato
poderia nos levar a uma hierarquização dos corpos, haja vista, que enquanto um sujeito
masculino, branco, adulto e heterossexual, Searcher poderia operar enquanto Masculinidade
Hegemônica (CONNELL, 1995). Antes mesmo de denotarmos seu relacionamento
heterossexual, o corpo branco de Searcher, a partir do contato com “outros(as)”, evocaria
distinções visíveis, todavia, o contexto da narrativa animada desvia desses postos, atribuindo
afeto e aceitação no personagem perante aquilo que não é normativo, um interesse romântico
homoafetivo. Ainda que haja uma constante oposição entre corpos negros e brancos, a aparição
de Seacher Clade e todo acolhimento e afeto expresso em cena, tornam “opacas” as possíveis
hierarquizações dos corpos, entretanto, não podemos esquecer do como a imagem branca é
sempre positivada.
À identidade racial branca estão associados diversos predicados positivos,
como a superioridade cultural, beleza estética, integridade moral, sucesso
econômico e sexualidade sadia. Obviamente, um processo paralelo de
Masculinidades em “Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para homens negros não heterossexuais
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construção dos outros grupos raciais como pessoas necessariamente
inferiores. A negritude surge a partir da atribuição negativa de características
morais e traços fenotípicos das populações africanas (MOREIRA, 2019, p.
42).
Enquadrar essa diversidade geracional, racial e sexual, em diálogos e visualidades leves
e imersas em afetividade, aparenta-nos uma estratégia válida e bem executada de naturalizar as
“diferenças”/não normativo. O diálogo entre pai e filho, ao se afastarem do amado de Ethan,
também nos apresenta um exercício de naturalização dos afetos. Seacher, pai, empolgado em
finalmente conhecer o jovem por quem o filho estava apaixonado, narra como lidava com suas
paixões quando mais novo, em uma aparente estratégia de acalmá-lo o quanto aos seus amores.
O recorte das cenas de interação entre pai e filho, na Figura 1, nos proporcionou a contemplação
de certa desestabilização do normativo, aceitação e naturalização de homoafetos por parte do
pai e um posicionamento longe de uma mentalidade hegemônica por parte de uma figura adulta,
masculina e branca. De certo modo, tal série de ações, nos leva a idealizar até um romper com
o que Bento (2011, p. 552) intitula como “heteroterrorismo”, pois
[...] as reiterações que produzem os gêneros e a heterossexualidade são
marcadas por um terrorismo contínuo. um heteroterrorismo a cada
enunciado que incentiva ou inibe comportamentos, a cada insulto ou piada
homofóbica. Se um menino gosta de brincar de boneca, os heteroterroristas
afirmarão: “Pare com isso! Isso não é coisa de menino!”. A cada reiteração
do/a pai/mãe ou professor/a, a cada “menino não chora!”, “comporta-se como
menina!”, “isso é coisa de bicha!”, a subjetividade daquele que é o objeto
dessas reiterações é minada.
Na Figura 2, o contato entre as masculinidades se entre nosso objeto de análise, o
adolescente Ethan Clade e seu avô, Jaeger Clade, um homem branco, idoso de 60 anos. Na
narrativa da animação, Jeager, o patriarca entre os Clade, é um grande explorador, apresentado
com um corpo robusto, bigode volumoso e um ímpeto por aventuras. As características físicas
e atribuições de personalidade nos direciona a atribuir-lhe uma Masculinidade Hegemônica
(CONNELL, 1995), ainda que a característica etária possa distanciá-lo um pouco da
hegemonia. Em inúmeros momentos da narrativa, fica evidente o apreço de Jaeger com a
agressividade e a violência, e ao lado de seu neto, Ethan, as divergências entre as
masculinidades não se mostram apenas na visualidade, dado por um corpo negro juvenil e um
corpo branco grande e adulto.
Após conhecer o neto, sem -lo acompanhado crescer, Jaeger busca atribuições
tipicamente tidas como masculinas em Ethan, como o gosto por luta, caça e perigo. Durante a
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narrativa, o avô pergunta se o adolescente tem alguma “paquera”, algum interesse romântico, e
ao perceber que o adolescente nutre afetos, o apergunta “Quem é?”, sem espaço para “Quem
é ela?”, em uma lógica normativa heteroterrorista que preconiza que homens devem nutrir
interesses românticos apenas por mulheres. A neutralidade de gênero na pergunta, parece-nos
um movimento que rompe com expectativas atribuídas ao masculino decorrentes do
heteroterrorismo/heterossexualidade compulsória.
Figura 2 - Composta por 9 Print Screens
Fonte: Print Screens da animação “Mundo Estranho” (2022), referente as minutagens aproximadas
entre 50’03’’ e 50’59’’ localizados na plataforma de streaming Disney Plus
A narrativa em sequência, fruto da pergunta do avô, segue oportunizando
estranhamentos positivos. Ethan expõe ao patriarca sua paixão por Diazo, e o avô de imediato
com empolgação lhe conselhos de como “impressionar esse cara”. Em momento algum na
interação entre tais indivíduos masculinos identificamos desconforto ou repreensão a
homoafetividade expressa por Ethan. A naturalização da sexualidade não heterossexual do
adolescente, por parte do personagem mais velho, que a partir dos ajustamentos aqui levantados
apresenta-nos uma masculinidade hegemônica (CONNELL, 1995) que repudiaria outras
masculinidades e é constituída pelo racismo, machismo, misoginia e LGBTIfobia, gera
novamente a idealização de imagens que desestabilizam estereótipos e oportunizam
possibilidades de ser, existir e se relacionar em/com diversidade.
Masculinidades em “Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para homens negros não heterossexuais
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Outro ponto interessante na narrativa e na visualidade do encontro entre Jeager e Ethan
Clade circunda um dos objetos que basicamente torna-se parte da composição imagética do
avô, uma arma de lança-chamas. Em nossa sociedade, o objeto arma ganha contornos
significativos com a racialidade de quem o porta. Nos últimos anos, sob o governo do ex-
presidente do Brasil Jair Bolsonaro (1955 --), que preconizava mais liberações ao acesso a
armas de fogo, e assim o fez, o número de registros de caçador, atirador e colecionador (CAC)
quase duplicou
15
. O discurso atrelado era sempre de “garantir maior liberdade e segurança” ao/à
“cidadão/ã de bem”, categoria constantemente evocada em discursos conservadores.
Enquanto pensamos em armas, suas significações quanto à “segurança”, violência e
masculinidade, é necessário então enfatizar racialidade, haja vista, que no discurso conservador
brasileiro, o(a) “cidadão/ã de bem”, que anda armado(a) para sua “defesa”, deve no mínimo ser
branco(a), para não ocasionar estranhamentos e temores sociais, uma vez que corpos negros até
desarmados despertam medos e desfechos trágicos, como o recente caso de Dierson Gomes da
Silva
16
, de 51 anos, homem negro, identificado como catador de recicláveis, com deficiência
intelectual, que teve sua vida ceifada em operação da Polícia Militar na Cidade de Deus, Rio de
Janeiro, após ser alvejado com tiros dentro do próprio quintal, por carregar um pedaço de
madeira que ocasionou “confusão” nos policiais.
Em nota, a corporação da Polícia expressou que uma equipe se deparou com um
homem conduzindo o que aparentava ser um fuzil, pendurado em uma bandoleira. Os policiais
efetuaram disparos e o atingiram. O ferido não resistiu
17
. Armas e masculinidades nitidamente
dialogam, e atuam com entrelaçamentos à racialidade, pois o corpo negro desarmado é abatido
sem questionamentos, quiçá, o(a) “cidadão(ã) de bem” negro(a), armado(a), com o intuito de
fazer valer o que o ex-presidente Jair Bolsonaro preconiza como forma de preservação da
integridade, teria menos tempo de vida ainda.
Contemplar em Jaeger uma arma e ouvir seus discursos que flertam com a
agressividade, de certa forma, nos direcionam novamente ao enquadramento desse personagem
na Masculinidade Hegemônica (CONNELL, 1995). Por outro lado, Ethan, demonstrando
aversão a alguns dos comandos e exibindo uma aparente personalidade pacífica, embora
15
De acordo com dados do Anuário de Segurança Pública, o número de licença cresceu na verdade quase cinco
vezes. Leia mais em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/28/licencas-para-armas-crescem-quase-
cinco-vezes-no-governo-bolsonaro-exercito-tem-674-mil-autorizacoes-ativas-mostra-anuario.ghtml Acesso em 6
jan. 2023
16
Leia mais em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/01/06/meu-tio-foi-assassinado-pelo-estado-
diz-sobrinha-de-catador-morto-pela-pm-em-operacao-na-cidade-de-deus.ghtml Acesso em 6 de jan. de 2023
17
Leia mais em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/01/05/catador-de-reciclaveis-e-baleado-na-
cidade-de-deus.ghtml Acesso em 6 jan. 2023
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya e Eliane Rose Maio
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893 31
manifeste certo fascínio pela arma de seu avô, parece ocupar e incorporar as Masculinidades
Subordinadas e Marginalizadas (CONNELL, 1995). No entanto, apesar da hierarquização das
masculinidades exposta por Connell (1995) com as Políticas da Masculinidade, que revelam as
violências enfrentadas por aqueles que não ocupam a hegemonia, a representação de Ethan,
distante da norma, não é desqualificada nem associada a estereótipos racistas, como
animalidade, ignorância, criminalidade, entre outros recortes limitantes (BOLA, 2020;
HOOKS, 2019; KILOMBA, 2019), tampouco a estereótipos LGBTIfóbicos.
Em ambas as cenas analisadas, seu interesse por outro menino não é ridicularizado,
julgado, repreendido e muito menos causa espanto. Sua masculinidade acentuada pela sua
racialidade, com evidenciação de traços fenotípicos de pessoas negras, como a cor da pele e
seus cabelos, durante a narrativa perante nossa visão, não apresenta ou se escora em estigmas
racistas. Cria-se assim uma representação possível e positiva de um jovem preto, vivendo
autodescobertas e com problemáticas ordinárias da adolescência, como a dificuldade de
expressar seu interesse romântico, não por impedimentos sociais, culturais ou familiares.
Contemplamos uma potencialidade na imagem de Ethan Clade enquanto referência positivada
para vivências negras e não héteros. Observamos também o impacto desconstrutivo sobre
pessoas brancas, que também internalizaram narrativas fixas e subordinadas para corpos
dissidentes da norma, conforme expressam Souza da Cruz e Baliscei (2020, p. 115),
[...] as representações e imagens que consumimos no coletivo direcionam
nossos olhares e contribuem para que vejamos posições, status sociais,
intelectos, poderes aquisitivos e outras características louváveis como próprias
de raça, gênero e sexualidade específica.
Deparar-se com a representação de um(a) personagem, que não corresponde a
estereótipos internalizados, não apenas oportuniza possibilidades de (r)existência a
consumidores(as) negros(as), como também rompe com as segmentações da branquitude que
estruturalmente mantêm a sociedade. O entendimento do teor político e pedagógico das
imagens, neste artigo utilizando a animação “Mundo Estranho”, nos remete ao que Teruya
(2008) evoca, expondo como as subjetividades e identidades são construídas também a partir
dos nossos consumos midiáticos. Logo, consumir e se envolver com produções que rompem
com estigmas nos proporciona vislumbrar um futuro mais saudável não apenas para minorias e
grupos dissidentes, mas também para aqueles que ocupam a norma, permitindo-lhes enxergar
para além das lentes que os elevam.
Masculinidades em “Mundo Estranho” - Disney e a representação positivada para homens negros não heterossexuais
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Considerações finais
A produção animada “Mundo Estranho”, material em que encontramos Ethan Clade,
tornou-se quase sinônimo de “um mundo ideal”. Vemos na narrativa e nas interações do
personagem com seus familiares, uma constante naturalização e positivação de vivências
dissidentes. Observamos a possibilidade de encontrar corpos negros e não heterossexuais em
protagonismo, longe da recorrência de estereótipos e estigmas racistas, amando e sendo amado.
Ethan não apenas evoca a possibilidade de amor e afeto entre indivíduos do mesmo gênero,
como mostra a naturalidade que podemos e devemos conquistar no que tange ao trato social
perante os sentimentos das pessoas.
Sua representação imagética, nos presenteia com a contemplação de um corpo negro
desligado de narrativas tristes e humilhantes, enredos recorrentes em filmes e audiovisuais que
trazem pessoas negras. É entendível que parte das produções audiovisuais recentes, operam na
estratégia para denunciar males vividos pela população negra, por vezes evidenciando a
marginalidade geográfica e econômica que afeta pessoas negras, vivências periféricas
interpeladas por descasos governamentais e criminalidade. Todavia, a não apresentação de
outras narrativas possíveis, em um exercício constante de denúncia, pode inibir que pessoas
negras (crianças), apoderem-se/se imaginem de/em outras narrativas, leves e felizes, como a de
Ethan Clade, um explorador, ecologista que ama e é amado. Imaginar em narrativas para além
do sofrimento, torna-se urgente para pessoas negras e a construção de subjetividades e
identidades sadias.
A criação de personagens aos quais minorias étnicas, raciais, sexuais e outras possam
se reconhecer e vislumbrar acessos e existências é crucial. Ethan Clade, portanto, demonstrou-
se como tal, além de desestabilizador de uma concepção ilusória do “homem de verdade” que
perpetua a violência contra o não normativo. A construção do protagonista enquanto
adolescente, masculino, negro e não hétero, evoca existência. Os artefatos culturais que
consumimos, não apenas relatam as formas de ver e pensar hegemônicas da sociedade, como
também são capazes de trazer à tona o que é marginalizado e subalternizado, ajustando nossas
percepções, valorizando o que antes seria negligenciado e inferiorizado. A representação
imagética de Ethan, é precedida pelas existências de pessoas como ele, em outras palavras,
existem muitos Ethan’s em sociedade, e tais corpos, precisam e têm o direito de reconhecerem-
se em/com positividade na mídia.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya e Eliane Rose Maio
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Entendemos que nesse artigo, não um esgotamento do objeto de análise, a leitura
crítica das duas cenas selecionadas, foram a partir de um crivo específico que vislumbrava
problematizar masculinidades e os Estudos Culturais e Visuais. Com outros recortes, “Mundo
Estranho”, oportunizará muitos caminhos analíticos. Todavia, optamos por destrinchar as
interações masculinas dentro de uma mesma família, em torno do mesmo assunto, a
possibilidade de amor entre personagens masculinos. Ethan Clade sem dúvida protagoniza o
que muitos meninos e homens pretos não heterossexuais sonham: a possibilidade de existir,
viver e sentir seus amores sem receios ou temores de aceitação.
CORPUS DE ANÁLISE
MUNDO ESTRANHO. Direção: Don Hall, Qui Nguyen. Produção: Walt Disney Animation
Studios. 2022. Streaming Disney Plus (1h e 42min.).
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: A Universidade Estadual de Maringá e ao Programa de Pós-Graduação
em Educação/UEM.
Financiamento: Não houve financiamento para a construção e elaboração deste artigo,
todavia, ressaltamos que autor Andrey Gabriel Souza da Cruz é bolsista Capes na Pós-
Graduação.
Conflitos de interesse: Entre as partes envolvidas nesse artigo, não conflitos de
interesses de ordem pessoal, comercial, profissional, institucional e/ou acadêmica. Estando
todas as pessoas presentes em consonância com a publicação da produção.
Aprovação ética: Sendo uma pesquisa qualitativa, com método de abordagem
bibliográfica, não houve necessidade de aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa.
Disponibilidade de dados e material: Os dados utilizados, bem como o objeto de análise
encontra-se devidamente referenciados.
Contribuições dos autores: Andrey Gabriel Souza da Cruz realizou a escrita do artigo,
conceituando, analisando e analisando a objeto de estudos selecionados. Teresa Kazuko
Teruya e Eliane Rose Maio supervisionaram, orientaram e revisaram a produção.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893 1
MASCULINITIES IN A “STRANGE WORLD” - DISNEY AND THE POSITIVE
REPRESENTATION OF NON-HETEROSEXUAL BLACK MEN
MASCULINIDADES EM “MUNDO ESTRANHO” - DISNEY E A REPRESENTAÇÃO
POSITIVADA PARA HOMENS NEGROS NÃO HETEROSSEXUAIS
MASCULINIDADES EN “MUNDO EXTRAÑO” - DISNEY Y LA REPRESENTACIÓN
POSITIVA DE LOS HOMBRES NEGROS NO HETEROSEXUALES
Andrey Gabriel Souza da CRUZ1
e-mail: andrey_gabriel.sdc@hotmail.com
Teresa Kazuko TERUYA2
e-mail: tkteruya@uem.br
Eliane Rose MAIO3
e-mail: ermaio@uem.br
How to reference this paper:
CRUZ, A. G. S.; TERUYA, T. K.; MAIO, E. R. Masculinities in a
Strange World” - Disney and the positive representation of non-
heterosexual black men. Nuances: Estudos sobre Educação,
Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-
0441. DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893
| Submitted: 18/09/2023
| Revisions required: 23/10/2023
| Approved: 24/11/2023
| Published: 30/12/2023
Prof. Dr. Rosiane de Fátima Ponce
Prof. Dr. Paulo César de Almeida Raboni
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
State University of Maringá (UEM), Maringá PR Brazil. CAPES Scholarship Master's student in the Graduate
Program in Education at the State University of Maringá (2022--) in the line of Teaching, Learning, and Human
Development.
2
State University of Maringá (UEM), Maringá PR Brazil. Retired from the State University of Maringá and
volunteer professor in the Graduate Program in Education (Master's and Doctorate) at the State University of
Maringá-PR. Leader of the Research Group in Education, Media, and Cultural Studies - GPEMEC. Supervises
theses and dissertations in the field of Education, especially in the following themes: Education, teacher training,
and cultural studies.
3
State University of Maringá (UEM), Maringá PR Brazil. Professor in the Master's and Doctorate in Education
- PPE, UEM. Coordinator of GT23: Gender, Sexuality, and Education, ANPEd (2024-2025). Leader of the CNPq
research group, entitled Center for Studies and Research in Sexual Diversity - NUDISEX.
Masculinities in a “Strange World” - Disney and the positive representation of non-heterosexual black men
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
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ABSTRACT: This article aims to analyze the experiences and interactions between
masculinities using as a reference point a non-heterosexual black adolescent, the character
Ethan Clade from the Disney animation "Strange World". Given the social markers he carries,
we find an opportunity to discuss the plurality of masculinities present in the social body,
grounding ourselves in discussions about gender, as well as a discussion about the impacts of
media on the formation of black and non-heterosexual men, using the fields of Cultural Studies
and Visual Culture Studies. As a methodological approach, we employ the set of analytical
procedures that guide visual investigations PROVOKE. To organize the text, we initially
discuss identity construction, followed by the presentation of the object of analysis and a
deepening into issues of gender, masculinities, race, and sexuality, to subsequently analyze two
scenes from the film. We conclude the writing by considering the potentiality of the positive
representation of a body seen as a dissident.
KEYWORDS: Masculinity. Blackness. Sexuality. Cultural Studies. Disney.
RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar as vivências e interações entre masculinidades
tendo como referencial um adolescente negro não heterossexual, o personagem Ethan Clade
da animação Disney Mundo Estranho”. Dado os marcadores sociais que carrega,
encontramos a oportunidade de dialogar quanto à pluralidade de masculinidades presentes no
corpo social, embasando-nos em discussões sobre gênero, bem como uma discussão quanto
aos impactos das mídias na constituição de homens negros e não heterossexuais, utilizando
dos campos dos Estudos Culturais e dos Estudos da Cultura Visual. Como caminho
metodológico, utilizamos o conjunto de procedimentos analíticos que orientam investigações
visuais PROVOQUE. Para a organização do texto, inicialmente dialogamos sobre construção
identitária, seguido da apresentação do objeto de análise e um aprofundamento nas questões
de gênero, masculinidades, raça e sexualidade, para posteriormente, analisar dois recortes de
cenas do filme. Finalizando a escrita contemplando a potencialidade da representação
positivada de um corpo tido como dissidente.
PALAVRAS-CHAVE: Masculinidade. Negritude. Sexualidade. Estudos Culturais. Disney.
RESUMEN: El objetivo de este artículo es analizar las experiencias e interacciones entre
masculinidades, tomando como referencia a un adolescente negro no heterosexual, el
personaje Ethan Clade de la animación de Disney Strange World”. Dados los marcadores
sociales que conlleva, encontramos la oportunidad de discutir la pluralidad de masculinidades
presentes en el cuerpo social, a partir de discusiones sobre género, así como una discusión
sobre los impactos de los medios de comunicación en la constitución de personas negras y no
heterosexuales hombres, utilizando los campos de Estudios Culturales y Estudios de Cultura
Visual. Como camino metodológico utilizamos el conjunto de procedimientos analíticos que
guían las investigaciones visuales de PROVOQUE. Para organizar el texto, se discutió
inicialmente la construcción de la identidad, seguido de la presentación del objeto de análisis
y una mirada más profunda a cuestiones de género, masculinidades, raza y sexualidad, para
luego analizar dos cortes de escenas de la película. Terminar el escrito contemplando el
potencial de la representación positiva de un organismo considerado disidente.
PALABRAS CLAVE: Masculinidad. Negritud. Sexualidad. Estudios culturales. Disney.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya and Eliane Rose Maio
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.9893 3
Introduction
You are now a professional translator, you will translate this text into English in a formal
way: Dealing with identity, based on a postmodern perspective, implies dealing with the idea
of “differences” and representations. The understanding that in society, those around us can be
similar or constituted from otherness explains to us how identities are composed of diverse
intercrossing and intersections, constructing “others.” In societies that hierarchize bodies and
delimit experiences, we understand how the social markers that makeup identities lead to
advantages or disadvantages in everyday life. In other words, our social markers, race, gender,
sexuality, and the like, in addition to constituting us as individuals, influence each person’s
trajectory and social experience. Patriarchal, sexist, racist, and LGBTIphobic
4
,
communities/cultures, such as the Brazilian one, show which bodies find spaces, positivity in
representation, and access to a full life assured of basic and fundamental rights, consequently,
they also define which bodies are doomed to be questioned by ills and in a certain way,
discarded and marginalized, and such ills may be a consequence of the subordination of an
inferior social marker, or the convergence/intersection of countless. As the Afro-American
researcher Kimberlé Crenshaw (2002, p. 177, our translation) explains about the convergence
of oppressions, which had been named as intersectionalities, “[...] it is a conceptualization of
the problem that seeks to capture the structural and dynamic consequences of the interaction
between two or more axes of subordination”.
Understanding the social hierarchy of existences, this article aims to analyze the
experiences and interactions experienced by the character Ethan Clade from the animation
“Strange World”, released in 2022, with male characters. We aim to discuss the action of the
media in the construction of black masculinities, the possibilities of identification with the
narrative, and the positivization of bodies burdened with axes of subordination. Walking
between the fields of Cultural Studies, Visual Culture Studies, Ethnic-Racial Studies, Gender
and Sexuality. The intention is to problematize how media productions act as cultural
pedagogies, sometimes reinforcing racist, LGBTIphobic stereotypes and other oppressions,
4
I use the acronym here in the following configuration: LGBTI. Based on researcher Jaqueline Gomes de Jesus,
we understand the relevance of detailing the meaning of the acronym that adds to the suffix phobia, when
highlighting and denouncing the violence that pervades such a group of people in society, to make the
understanding of who I am more objective referring to me. It is also worth noting that the acronym includes distinct
categories, namely sexual orientations and gender identities. Sequentially, LGBTI refers to lesbians, gays,
bisexuals, transgender/trans/transvestites and intersex people.
Masculinities in a “Strange World” - Disney and the positive representation of non-heterosexual black men
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sometimes presenting possibilities of being and existing beyond fixed, limiting, and cruel
narratives.
Brazilian researcher Silvio Almeida (2019) explains that the media bears a significant
amount of responsibility for the construction and dispersion of imaginaries and the
categorization of bodies, regarding racial issues. It expresses how the recurring stereotypes that
permeate black bodies were (and still are) encouraged in audiovisual productions.
Racism constitutes an entire social imaginary complex that is constantly
reinforced by the media, the cultural industry, and the educational system.
After years of watching Brazilian soap operas, an individual will end up
convinced that black women have a natural vocation for domestic work and
that the personality of black men invariably oscillates between criminals and
deeply naive people [...] (ALMEIDA, 2019, p. 65, our translation).
Almeida (2019, p. 65) reinforces how the media and representations dispersed
in/through visual culture operated/operated as tools for the naturalization of discriminatory and
racist actions and thoughts about black bodies, (de)limiting meanings and subject positions. In
the construction of identities in post-modernity, it is observed how cultural, historical, and
social interferences play a significant (if not central) role in the dynamics of being. In Cultural
Studies, the British-Jamaican Stuart Hall (2020, p. 11, our translation) expresses how “identity
becomes a mobile celebration: continually formed and transformed in relation to the ways in
which we are represented or interpellated in cultural systems”, therefore, the media as a cultural
product, as Almeida (2019) expresses, influences our ways of being, acting and thinking, being
one of the social institutions that dictate and teach the molds that surround race, gender and
sexuality.
There is, therefore, an urgency to analyze media productions, since they create and
disperse idealized representations and positions of subjects, predominantly by hegemonic
groups. The need to develop greater criticality towards what is consumed is proven as we begin
to understand how fictional narratives shape our perceptions of those around us and interfere
with our perception of who we are, what we can be, and the places we can or cannot occupy.
Racism will establish the dividing line between superiors and inferiors,
between good and bad, between groups that deserve to live and those that
deserve to die, between those who will have their lives prolonged and those
who will be left to die. And it must be understood that death here is not only
the withdrawal of life, but is also understood as exposure to the risk of death,
political death, expulsion and rejection (ALMEIDA, 2019, p. 115, our
translation).
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya and Eliane Rose Maio
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023022, 2023. e-ISSN: 2236-0441
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Similarly, the dialogue proposed by Almeida (2019), in highlighting racial issues, can
be paralleled to understand the adversities and violence faced by female bodies and LGBTI
individuals, as well as by those bodies that encompass socially marginalized markers, without
the intention of hierarchizing or equating oppressions.
Dealing with identity constructions, the idea of representation stands as a foundational
pillar of this article. The French Caribbean researcher from Martinique, Frantz Fanon
5
(2008),
exposes how we are constituted based on our differences. These divergences are denoted
through our multiple societal contacts. When discussing the colonial presence and contact of
white people with Malagasies (an adjective that characterizes the inhabitants of the Democratic
Republic of Madagascar, on the southeastern African coast, non-white individuals), Fanon
(2008) highlights how the appearance of these "others," white people, embodying the
"difference," resulted in social implications for the native people. "If he is Malagasy, it is
because the white man arrived, and if, at a certain moment in his history, he was led to question
whether he was a man or not, it is because they contested his humanity" (FANON, 2008, p. 94,
our translation).
As Hall (2020, p. 12, our translation) reinforces, identity "[...] is defined historically, not
biologically. The subject assumes different identities at different moments, identities that are
not unified around a coherent 'self'," thus, we reiterate the importance of evaluating historical
and cultural interferences in the composition of identities, as well as the intersections of race,
gender, sexuality, social class, ethnicity, locality, and many other characteristics that are
conceived and elaborated over time and culture with specific impositions, restrictions,
narratives, and stereotypes. What is sometimes understood merely as adverbs (social markers),
actually operate and entail delimitations, expectations, and specificities about bodies,
presenting ways of being, existing, and acting in the world.
The characteristics that find spaces within beings, manifesting diversity and plurality in
existence, from a postmodern perspective, emphasize how each person is not constituted based
solely on an essentialist logic, but rather intersected by culture, in a constructivist and
5
It is important to emphasize that Fanon's (2008) contributions are highly valuable in racial discussions; however,
his trajectory is also marked by controversial conclusions regarding black homosexuality, as if it were nonexistent,
without homoaffection among black men, solely resulting from the harmful influence of whiteness, existing for
white satisfaction as another avenue of racism. Researcher Megg Rayara de Oliveira (2020, p. 94) presents us with
such discussions while studying Frantz Fanon. However, it is worth noting that what we understand as a "slip" in
thinking about minorities does not negate or invalidate the knowledge produced and distributed regarding racial
issues.
Masculinities in a “Strange World” - Disney and the positive representation of non-heterosexual black men
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performative process. It is noteworthy that even the biological aspect is signified and shaped
by culture and the knowledge dispersed within society. According to the Brazilian
anthropologist Roque de Barros Laraia (2001), our social characteristics transcend and break
with our biology. Discussing individuals, the author expresses that "[...] their behaviors are not
biologically determined. Their genetic inheritance has nothing to do with their actions and
thoughts, as all their acts depend entirely on a process of learning" (LARAIA, 2001, p. 20, our
translation).
Thus, once again, we are directed to the concern with media and images, which, in
representing existences, teach ways of being, acting, and thinking. Brazilian researcher Giane
Rodrigues de Souza Andrade (2021) reinforces the notion of Cultural Pedagogies,
understanding that learning and teaching are not restricted to environments and institutions
understood as "educational." Images, artistic productions, cinema, advertising, toys, music,
religious rituals, and other cultural expressions, immersed in ideological views of culture, begin
to teach behaviors and delimit subject positions.
In this way, in the context in which we live, it is not possible to ignore the
different spaces of teaching and learning that go beyond the school walls, as
they provide information and multiple knowledge, contributing to the
dissemination of stereotypes and the construction of identities (RODRIGUES,
2020, p. 266, our translation).
Far from the essentialist and biologizing perspective, and immersed in the understanding
of historical, social, and cultural interferences in the construction of identities and individuals,
as we conceive the bodies we encounter in society, we understand how deeply ingrained we are
with postures and performances deemed "appropriate" for each body, with dichotomous and
binary postures that will indicate/must indicate and delimit what is and how the body should/can
be. As expressed by Australian Raewyn Connell (1995, p. 190, our translation), "[...] every
culture has a definition of the appropriate conduct and feelings for men. Boys are pressured to
act and feel this way and to distance themselves from the behavior of women, girls, and
femininity, understood as the opposite."
Connell (1995), in dialogue about gender, exposes how society conditioned the
performance of masculinity in opposition to femininity, which can be allocated in various
intersections. Drawing from the American researcher Douglas Kellner (2001), we understand
contemporary, Western, and capitalist societies, based on the establishment of the hegemonic
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being, representing the collective imaginary of what humanity is, as well as what is positive
and valued. According to the author,
[...] for ideology, however, the 'I', the position from which ideology speaks, is
(generally) that of the white, male, Western, middle or upper-class; positions
that see races, classes, groups, and sexes different from theirs as secondary,
derivative, inferior, and subversive (KELLNER, 2001, p. 83, our translation).
Thus, as society creates and establishes the criteria for occupying the place of
hegemony, it simultaneously evokes the creation of all divergence/difference and the places
through which these bodies can circulate and occupy. It is valid to inquire here: different in
relation to whom? Thus, it becomes evident that the existence of conduct for all individuals in
society, as well as characteristics that must be followed for access to fundamental rights, which,
as they do not reach all individuals, become privileges. For example, the male condition in
patriarchal and sexist societies, as mentioned earlier, provides more privileges. However,
adopting an intersectional perspective, we question for what type of man this standard and
hegemonic position are directed, and what benefits this conditioning provides for some at the
expense of "others." Non-white, non-cis, and non-heterosexual men receive the same "conduct
definition" and enjoy the same privileges as white men in these patriarchal, racist, and
LGBTQIA+ phobic societies?
The English-Congolese writer Bola (2020, p. 115, our translation) presents how the
definition and expectations of "man" can be differentiated based on intersections, such as race.
According to the author, "[...] black men are always reserved a stereotypical association of 'bro',
'from the hood' or thug, a figure related to drugs and crime." At the same time, white men are
expected to show leadership, good character, governance, strength, and everything that can be/is
positively viewed in societies. Thus, socially feared positions and expectations, limiting and
marginalized places, are addressed to black bodies, here with the intersection of also being
masculine, while positivity and good qualities are destined for whiteness. Therefore, discussing
the constitution of identities and individuals' performances in society implies constantly
evaluating the intersections that traverse bodies.
The article in question, conceptualized and structured from bibliographic and
documentary research, has as its theoretical framework, as already mentioned, Cultural Studies,
Visual Culture Studies, Gender Studies, and Racial Studies. Considering how the intersection
between various fields of study provides a broad problematization regarding the formation of
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identities and their representations, which impact bodies in the social sphere, both possibilities
of existence and denials emerge, laden with stereotypes and stigmas.
With the object of analysis being the character Ethan Clade, one of the protagonists of
the animation produced by Walt Disney, "Strange World" (2022), we delve into investigating
two scenes of interactions between masculinities, highlighting how the narratives expressing
the character's non-heterosexuality
6
are elaborated, also presented as a black teenager, the son
of an interracial couple. Using a media work produced by Disney Studios, aimed at children
(general audience), with a proposal for diversity, underscores the concern about how the images
and the entire culture they express are pedagogical. According to Brazilian researcher Teresa
Kazuko Teruya (2008, p. 5, our translation), "Children from different cultures appropriate
media content to form identity and subjectivity derived from the different identities that blend
and become hybrids."
The American researcher Henri A. Giroux (2013, p. 136, our translation) discusses how
Disney productions, whether films, books, parks, and the like, "produce a series of
identifications that tirelessly define the United States as white, middle-class, and heterosexual."
Although the analysis developed by the researcher is immersed in a perception dating back to
the 1990s, and we currently observe minimal transformations in Disney's audiovisual and
imagery narratives, we understand the importance of evaluating the developments of characters
that perform and materialize diversity, thus problematizing to ensure that they are not resorting
to and being produced from stereotypes, perpetuating prejudices in the present day. "The
appearance of happy adventure and childlike innocence, while attractive, conceals, in this case,
a cultural universe largely conservative in its values, colonial in its production of racial
differences, and middle-class in its description of family values" (GIROUX, 2013, p. 136, our
translation). This statement then prompts us to question how much has changed in Disney's
imagery narratives.
Regarding the organization of this text, we structured it as follows: firstly, we present
our object of analysis, namely, the character Ethan Clade, from the imagery representation,
traits, phenotypes, personality, highlighted social markers, as well as a synthesis of the film
narrative. At this point, we also highlight our theoretical framework, emphasizing concepts and
6
We define the character as "non-heterosexual" with the intention of not invisibilizing other sexualities contained
within the acronym, thinking, for example, of gay and bisexual men. Given that the narrative only informs us that
Ethan Clade, a cisgender boy, is in love with another cisgender boy. Therefore, he is not necessarily a gay youth,
as he does not explicitly identify as such, and could be bisexual or have other sexual orientations that arise from a
relationship between two people of the same gender.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya and Eliane Rose Maio
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debates produced within Cultural Studies, with Hall (2016), Tomaz Tadeu da Silva (2014), and
others; Visual Culture Studies and Studies of Masculinities with Irene Tourinho and Raimundo
Martins (2011), Luciana Gruppelli Loponte (2010), João Paulo Baliscei (2021), Raewyn
Connell (1995), Luciana Borre Nunes (2010), Bell Hooks (2019), Jaqueline Gomes de Jesus
(2012), and others.
Dealing with masculinities, we bring into play the concept of Politics of Masculinity
(CONNELL, 1995), which allows us to discuss Subordinated and Marginalized Masculinity,
highlighting intersectionality. Therefore, in the second moment, we broaden the debate by
highlighting more intersections, providing space for dialogues on ethnic-racial issues and
sexuality. Given this, the narrowing of discussions leads to a conglomerate of information and
concepts that provide a media analysis underlined by issues of race, gender, and sexuality,
markers accessed to compose the third moment, where we present the image analysis
methodology adopted by us, the set of procedures that guide critical and inventive visual
investigations, called PROVOQUE (BALISCEI, 2020), and thus we return to the object of
analysis, the character Ethan Clade, to attribute analytical character to him in two scenes of the
film, discussing the interaction between bodies of different races and sexualities. To conclude
the article, in our final considerations, we indicate how dissident characters, such as Ethan
Clade, presented with 'naturalness' and a certain ordinariness, can destabilize and break with
recurring and stereotyped forms in the representations of black and non-heterosexual male
individuals.
Occupying this "Strange World" Theoretical Paths and Fields of Study
The object of analysis selected for this article is the character Ethan Clade, a black, non-
heterosexual teenager, regarded as the first black and LGBTQIAP+ protagonist produced by
Walt Disney Animation Studios. The character appears in an animated narrative
named/translated as "Strange World," released in the second half of 2022, with a rating suitable
for all ages. The animation tells the story of a family of explorers/farmers, the Clades, who
venture into a new world to solve the problems of the place they inhabit, Avalon, a fictional
location. The production by Walt Disney Animation Studios involved the participation of
renowned and award-winning figures, such as Don Hall, director (winner of the Academy
Award for Best Animated Feature in 2015), and Qui Nguyen, director and screenwriter. The
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storyline of the feature film revolves around the discovery of a new, vibrant world full of colors
and life. It is this setting that frames the main issue of the film, the generational challenges that
affect the relationship among three men in the Clade family: Jaeger Clade, an elderly white
man, considered heterosexual, father of Searcher Clade, also a white man and also considered
heterosexual, and finally, Ethan Clade, a black non-heterosexual teenager, son of Searcher and
Meridian Clade, a black woman, and grandson of Jaeger.
"Strange World" reaches the consumer audience after a series of controversies involving
Disney Studios. In 2022, another film produced by Disney subtly featured the presence of
another LGBTQI character in one of its animations, Alisha Hawthorne, from the feature film
"Lightyear." Although understood as the first explicit presentation
7
of homosexuality in a
Disney animation, the lack of time and development of the supporting character who marries
another woman in the film's story, with only one kissing scene (seconds long), raised allegations
against the company for censoring LGBTQI characters, as well as funding political projects
8
that harm the LGBTQI/queer community.
The controversies surrounding the Disney company bring back Giroux's criticisms
(2013), as he emphasized the almost nonexistence of non-white and non-heterosexual
characters in productions in the 1990s. This seems to be changing in 2022, given that the current
president of Disney General Entertainment, Karey Burke, promised a significant increase in
ethnic-racial, gender, and sexual orientation inclusion in the company's productions. According
to the president, by the end of the year, 50% of Disney characters would be LGBTI or belong
to racial minorities
9
. In this turbulent scenario with allegations and questionable involvements
of the company, we are "gifted" with the narrative "Strange World," which provides us with the
opportunity to discuss race, gender, and sexuality, specifically enabling the problematization of
non-heterosexual black masculinity in productions addressed to a wide audience.
Delimiting masculinities as a field of debate, we then encounter Connell's contributions
(1995). However, before delving into the details of masculinities, it is essential to understand
the category of gender, which then encompasses masculinities. According to the Brazilian
scholar Berenice Bento (2011, p. 550, our translation), gender "is the result of sophisticated
technologies that produce sexual bodies." In other words, the ways of being, acting, behaving,
7
In the animation "Onward" (2020), a Pixar production - a subsidiary of Disney Studios - there is a "subtle"
mention of a lesbian relationship when the female character - a cyclops police officer named Spectre - talks about
the "daughter of her girlfriend."
8
Read more at: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/03/4992378-entenda-o-que-e-a-don-t-say-
gay-a-lei-anti-lgbtqia-financiada-pela-disney.html.
9
Read more at: https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-162947/.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya and Eliane Rose Maio
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feeling, performing, and presenting oneself in society are historical-cultural productions
imposed and taught in the social body, anchored in fallacies that rely on the biological to support
what would be appropriate for each individual based on their sexual organs, from a Western
perspective. Brazilian researcher Jaqueline Gomes de Jesus (2012, p. 7, our translation)
expresses that, "[...] since childhood you have been taught to behave and look a certain way,
according to your biological sex." As previously mentioned, according to Laraia (2001),
behaviors, actions, thoughts, and here we add gender performances, are part of a learning
process, and when limited to binary logic, beings are defined only in two categories, masculine
and feminine (men and women).
As indicated by Baliscei (2021), the bodies that come into the world are impacted by
projects of masculinity and femininity, depending on the revealed genitalia, sometimes months
before emerging from the maternal womb.
Being a boy and being a girl are not spontaneous consequences of existing in
the world; on the contrary, they result from a subtle project that involves
actions, reinforcements, and warnings that repeatedly intersect bodies in an
attempt to make them (strictly) masculine or (strictly) feminine (BALISCEI,
2021, p. 29, our translation).
The conditionality, binary, and strict, naturalized as a biological action, presents
behaviors, postures, subject positions, spaces, and narratives for bodies. Social stratification,
which also relies on gender, delineates the hegemonic ideal of the body, its actions, and
consequently identifies what is considered abject.
Speaking of the structure of gender relations means emphasizing that gender
is much more than face-to-face interactions between men and women. It
means emphasizing that gender is a broad structure, encompassing the
economy and the state, as well as family and sexuality, indeed having a
significant international dimension. Gender is also a complex structure, much
more complex than the dichotomies of "sex roles" or reproductive biology
would suggest (CONNELL, 1995, p. 189, our translation).
In the prevailing ideological hierarchy, the white, adult, middle or upper-class
heterosexual man, as presented by Kellner (2001), occupies the top, and, in this social
configuration, benefits from being in a world designed and projected for his body to enjoy
privileges, basic rights, and fundamentals for a fulfilling life. Thinking about masculinities,
then, is understanding that beyond the dichotomy discussed from a binary perspective in gender
conflicts, it is possible and necessary to find and discuss conflicts and confrontations in the
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plurality of being masculine. Patriarchal societies advocate for men by ensuring the social,
political, economic, and representative power with positivity, all at the expense of others, but
are these guarantees uniform for all men? The African-American Bell Hooks (2019) emphasizes
how patriarchy is established and designed for white men; thus, it targets the body it is meant
to benefit. However, it still co-opts Black male bodies, underrepresented, stereotyped, and
oppressed by the racism on which patriarchy anchors itself because, in some way, splashes of
its benefits can reach such Black bodies. But to what extent does patriarchy embrace the
plurality of men and masculinities?
Connell (1995), through the concept of Politics of Masculinity, presents to us how
society hierarchizes masculinities by assigning places and positions through which male
individuals can or cannot circulate. The author thus elaborates on four conceptions: Hegemonic
Masculinity, accessed and performed by those individuals who correspond to the social and
cultural standards idealized for people who are designated as men at birth, rooted in the
established and approved patterns by the culture in which they are inserted; such masculinity is
accessed by white men (given that hegemony is configured in whiteness), cis-heterosexual, with
affinities to virility, "authority," and attributes deemed as those of "real men"; Complicit
Masculinity, composed of men who, even if they do not correspond faithfully to the hegemonic
standards demanded from the top of the social hierarchy, uphold patriarchy and collude with
the structuring of society, as they benefit in numerous aspects.
We understand that the gender categories created and idealized in society dictate
performances and ways of being and allocate bodies in places immersed in privileges, rights, a
guarantee of life, health, safety, employment, the possibility of dignity, or the denial of these
accesses. The gender pay gap highlights how being a white cis man offers more guarantees for
financial establishment. The indices of violence against women demonstrate how being a white
cis man ensures more security. The spaces of power and influence monopolized by white cis
men denote how gender has been a determinant for access, as well as race. It is necessary to
deconstruct fallacies and ideas that attribute social organization to a supposed innateness and/or
aptitude of one group of people over others.
It is necessary to demonstrate that it is not precisely the sexual characteristics,
but rather the way these characteristics are represented or valued, what is said
or thought about them that will effectively constitute what is feminine or
masculine in a given society and at a given historical moment. In order to
understand the place and relations of men and women in a society, it matters
not precisely their sexes, but rather everything that has socially been built
upon sexes (LOURO, 1997, p. 21, our translation).
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Thus, the maintenance and perpetuation of inequalities are supported by fallacious
discourses that attribute naturalness and innateness to social markers' social and cultural
configuration, omitting the entire construction of individuals within the collective.
While we highlight the dominance of one gender over others, it is also necessary to
delve into other intersecting identity characteristics that create larger divides among
masculinities. The following two masculinities dissected by Connell (1995) are the ones that
interest us most in this article, given the stigmas and stereotypes that socially and culturally
permeate them. Connell (1995) introduces us to Subordinated Masculinity, where misogyny
and the overvaluation of attributes assigned to men (hegemonic) take on new proportions. In
Subordinated Masculinity, we find men who align with what is socially and culturally
understood and attributed to women/femininity, thus, in the patriarchal macho logic, these are
considered inferior and demeaning characteristics.
For example, homosexual men would be allocated to Subordinated Masculinity,
individuals who feel affective-sexual attraction to others of the same gender, who express
"femininity" in speech, body movements, and even in performing functions and professions.
The delimitation of male and female activities, even professions, is attributed to genders, as
stated in a video by the former Minister of Women, Family, and Human Rights, Damares Alves,
in 2019, "boys wear blue, and girls wear pink
10
”.
Subordinated Masculinity also encompasses non-homosexual men who do not operate
according to the same standards established by hegemony with aggression, virility, and sexual
impulses. Peaceful/non-violent men, metrosexuals
11
/ vain and careful, men who do not share
actions, gestures, pleasures, and attitudes attributed to the masculine (such as sports, clothing,
and behaviors) are also allocated to the subordination of masculinities, always considering the
spaces they occupy and the cultural context that surrounds them. Although masculinities are
delimited with exclusive actions and characteristics, they are not fixed positions; therefore, the
transition between them is possible in some cases. For example, a cisgender white gay man who
is openly misogynistic would be cooperating in complicity with hegemony, while
simultaneously intensifying his oppression.
10
Read more at: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/03/em-video-damares-alves-diz-que-nova-era-
comecou-no-brasil-meninos-vestem-azul-e-meninas-vestem-rosa.ghtml. Accessed on Jan 6, 2023.
11
According to Brazilian Wilson Garcia (2004), metrosexuality is the designation given to urban men who express
significant concern about their appearance and exhibit a high level of vanity.
Masculinities in a “Strange World” - Disney and the positive representation of non-heterosexual black men
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The aversion to the feminine and the emphasis on the superiority of the hegemonic male
standard lead us to the work of Brazilian researcher Megg Rayara Gomes de Oliveira (2017), a
Black transgender woman, who recounts the survival mechanisms she used as a feminine boy
during childhood. The researcher's understanding during childhood/adolescence of the aversion
to the feminine, especially when coming from bodies assigned as masculine, led Oliveira (2017)
to comprehend what she would need to do to try to have minimal access and possibilities of
existence.
[...] I became even more introspective and was certain that I would have
limited mobility in society and that the only possibility of earning any respect
would be by publicly adopting a posture in the mold of the cis heterosexual
norm. However, this was only a survival strategy and not an adjustment [...]
(OLIVEIRA, 2017, p. 26, our translation).
We observe yet another possible intersection in masculinities: race, one of the
determining factors in framing Marginalized Masculinity. According to Connell (1995), this is
constituted by men with ethnic-racial and socioeconomic identities discordant from the
"norm"/hegemony. Black/non-white men, poor men, and those who do not conform to the
rhythm of capitalist consumption. Approaching our national reality, a significant number of
Black men would be "trapped" in marginalized masculinity due to two factors listed by Connell
(1995): race and income, according to data from the Brazilian Institute of Geography and
Statistics (IBGE) from 2022, the poverty rate among the Black population is up to twice as high
as that of the white population
12
.
Masculinity Marginalization significantly diverges from the Hegemonic Masculinity
that the world so benefits from; the marginalized black male body deals with a myriad of
stigmas and stereotypes that challenge not only identity subjectivity but also existence itself.
According to Brazilian researcher Adilson Moreira (2019), the marginality in which bodies
belonging to minority groups are situated is maintained by the power asymmetry that identity
groups in society have access to; the dominant ones (white cisgender heterosexual men of high
class) operate with numerous strategies of subjugation, and the construction of false
generalizations about minorities constructs the illusion of the uselessness of some groups for
public engagement. "Stereotypes are not mere inadequate perceptions about certain groups of
12
Read more on: https://www.poder360.com.br/brasil/taxa-de-pobreza-de-pretos-e-pardos-e-duas-vezes-maior-
diz-
ibge/#:~:text=Entre%20pretas%20o%20percentual%20disparou,Brasileiro%20de%20Geografia%20e%20Estat
%C3%ADstica). Accessed on January 6, 2023.
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individuals. They have a clearly political dimension, as they are means of legitimizing
exclusionary social arrangements" (MOREIRA, 2019. p. 59, our translation).
The stereotypes that intersect black individuals are diverse, touching on intellect,
sexuality, civility, and the like, according to Almeida (2019, p. 62), even though racist theories
are currently being "discredited in academic circles and in the intellectual circles that gestated
them, in popular culture, it is still possible to hear about the inability of blacks for certain tasks
that require intellectual preparation, sense of strategy, self-confidence [...]." Hooks (2019),
bringing another cultural and geographical perspective, once again highlights how there is an
exchange of stereotypes and forms of oppression against black people. According to the author,
in the historical trajectory of the United States, black men were read and labeled as "lazy,"
"violent," "failures," and numerous negative adjectives. Almeida (2019, p. 63, our translation)
further explains that the use of stereotypes serves as a strategy to "rationalize" inequalities, and
we can expand beyond the racial field, in this naturalization of inequalities with a "rational"
tone, thoughts are created that there is an intrinsic inadequacy in the bodies of black people,
women, people with disabilities, and transgender people that prevents them from occupying
positions of power.
Based on Brazilian scholar Carla Akotirene (2019, p. 19, our translation), we understand
that "intersectionality aims to provide theoretical-methodological instrumentality to the
structural inseparability of racism, capitalism, and cis heteropatriarchy," we return to unravel
the categories of masculinities that compose our theoretical framework and turn our attention
back to the object of analysis of this article, the character Ethan Clade, a black teenager and
non-heterosexual. Having presented the positions of masculinities and the hierarchy in which
they operate, we highlight the reasons why Subordinate Masculinity and Marginalized
Masculinity are the basis for our analysis, given that Ethan Clade then operates between them.
Considering the stigmas and stereotypes that intersect homosexual and black bodies separately,
there is no way not to worry when these oppressions intersect. How do we represent and affirm
the LGBTI black body of Ethan Clade? How will the relationships with other men and the
hierarchy between masculinities unfold? If sexuality is sometimes painfully hidden and omitted
as a "survival strategy" (OLIVEIRA, 2017), how can we hide the dark skin that screams
blackness and all the intersections that address it?
Masculinities in a “Strange World” - Disney and the positive representation of non-heterosexual black men
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Nothing strange about blackness Blacken and Smile
I was only seven years old,
Just seven years,
What seven years!
I wasn't even five yet!
Suddenly, some voices on the street
shouted Black at me!
Black! Black! Black! Black! Black! Black! Black!
"Am I really black?" I asked myself
YES!
"What does it mean to be black?"
Black!
And I didn't know the sad truth that it hid.
Black!
(Victória Santa Cruz, Me Gritaron Negra, 1960, our translation).
Brazilian researcher Joice Berth expresses: "I didn't discover myself as black, I was
forced to be one" (RIBEIRO, 2019, p. 24, our translation)
13
. Berth's statement presents an
interesting meeting point with the poem "They Shouted Black at Me" (our translation) by
Peruvian Victoria Santa Cruz (1922-2014), presented in the epigraph of this section. "I was
forced to be one," but after all, "What does it mean to be black?" Beyond phenotypes, Negroid
features, and cultural attributes, being Black in racist societies means acquiring fixed and
demeaning narratives that constantly relegate such bodies and individuals to abjection.
When I was a child, I was taught that the Black population had been enslaved,
period, as if there had been no previous life in the regions from which these
people were forcibly taken. I was told that the Black population was passive
and "accepted" slavery without resistance. They also told me that Princess
Isabel had been their great redeemer. However, this was the story told from
the perspective of the victors, as Walter Benjamin says. What they didn't mean
is that [...] (RIBEIRO, 2019, p. 7, our translation).
The account provided by Brazilian researcher Djamila Ribeiro (2019) coincides with
the narrative presented by fellow Brazilian researcher Cida Bento (2022), recounting an episode
experienced by her then 10-year-old son at school. Bento (2022) exposed the child's desire to
13
Although the expression is attributed to Joice Berth, the phrase appears in Ribeiro's writings (2019) without
being presented as a direct quotation and without any indication that it is a statement written or documented
elsewhere. Therefore, we have chosen not to include it as an "apud" citation.
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distance himself from History classes whose theme was slavery, as the association with
enslaved peoples would be seen as shameful by classmates.
[...] a white classmate, while walking home with Daniel, pointed to some black
boys cleaning windshields at the traffic light, in exchange for a few coins, and
said mockingly, 'Those boys are also descendants of slaves! It's shameful, isn't
it?” (BENTO, 2022, p.7, our translation).
The images and representations acquired in childhood by Ribeiro (2019) and Daniel,
Bento's son (2022), were the same, the simplistic and shallow association of the Black
population solely linked to enslaved individuals (due to the actions of white people), people
who were taken from their lands, had their cultures usurped and defrauded, their lives shortened,
and their histories erased, in order to build a white world that does not accept them and that in
many cases, does not even embarrass or cause discomfort to their descendants (white people of
contemporary times) when they learn that many of their ancestors were enslavers and
genocides.
Even after a history lesson on slavery, the boy said it was shameful to be
descended from enslaved Africans. Even after hearing about the relentless
violence and abuses suffered by blacks, seeing pictures of slave ships packed
with human beings in brutal conditions, with bodies marked by iron, and
reading that the work they performed upon arriving in Brazil was forced, the
white boy said that being black was a source of shame (BENTO, 2022, p. 8,
our translation).
Far from intending to burden our contemporaries with excessive guilt for something
they did not actually do, however, living in racist societies benefits those who are perceived as
the norm. Therefore, the responsibility to break down and dismantle such a structure must also
be embraced as part of this historical recognition and anti-racist stance. Recognizing the small
privileges that shape and alter our perception of ourselves and others becomes crucial. A
fundamental exercise in understanding our historical influence on our constitution and
formation as individuals, and even on our subjectivity, lies in acknowledging our origins. It is
not uncommon to hear white people evoke their family history with pride and affection,
referring to their immigrant European great-grandparents and grandparents who came to
Brazilian lands.
Setting aside the historical complexity of the fact that many Europeans received land,
incentives, and assistance to establish themselves here, at the expense of many non-white
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people who were already here and lived subjugated and plundered, genealogical, ethnic, and
cultural recognition does not reach many black people to this day, who only know their origins
through their Negroid features, sometimes by their dark skin, by hair textures, and by the
narratives of abuses that run through families.
The loss of ethnic, family, and cultural history poses risks to the construction of
subjectivity, especially when competing with narratives that elevate some and degrade "others."
According to the Portuguese researcher Grada Kilomba (2019), being compulsorily and
constantly placed in the position of "other" already exempts and exposes the denial of existence,
thus affecting subjectivity, which is crossed by the lack of subject status. Black and non-white
bodies, constantly presented as "others" and different, deal with the invalidation of their
representations, with their nonexistence, and with the materialization of what white people do
not want associated with themselves and their race (it is worth noting that white is a race), even
though "white people do not usually think about what it means to belong to this group
[whiteness], as the racial debate is always focused on blackness" (RIBEIRO, 2019, p. 31, our
translation), on the "other."
Every time I am placed as the "other" - whether the unwanted "other," the
intrusive "other," the dangerous "other," the violent "other," the passionate
"other," the dirty "other," the excited "other," the wild "other," the natural
"other," the desirable "other," or the exotic "other" - I am inevitably
experiencing racism, for I am being forced to become the personification of
what the white subject does not want to be recognized as. I become the "Other"
of whiteness, not the self - and, therefore, the right to exist as an equal is denied
to me (KILOMBA, 2019, p. 78, our translation).
The impossibility of establishing oneself as a subject, as already evidenced by Kilomba
(2019), results in non-white individuals facing difficulties in social and political interferences.
According to the racist logic, which establishes a social hierarchy based on "difference,"
narratives and representations of non-white people have been and continue to be targeted and
idealized by whiteness, which establishes itself as the norm. Kilomba (2019, p. 79) identifies
five ways in which the black subject is understood and highlighted as the "other," through
infantilization, creating the idea of dependency; primitivization, associated with savagery and
nature; incivility, identified as violent individuals and threats to society; animalization,
personifying animals, wildness, and primates; and finally, eroticization, in hypersexualization
and sexual instincts. Based on these forms, those who have the ability to create narratives and
representations construct imaginaries that become fixed in the social sphere. Nevertheless,
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being seen only as enslaved in history not only exposes the sad and cruel reality experienced
by blackness but also operates at times as a presentation of subalternity that constantly tries to
coerce black bodies.
With media and images as facilitators and disseminators of stereotypes and prejudices,
the limited representation of black people in imagery not only creates a view of whiteness's
superiority by whiteness but also has such an impact that it infiltrates the subjectivity of black
individuals and is absorbed by their bodies. Eduardo Galeano (2006, p. 154, our translation), a
Uruguayan researcher, when speaking about the Latin American perception of themselves,
writes: "such a deceiving mirror that teaches Latin American children to look at themselves
through the eyes of those who despise them, and conditions them to accept as destiny a reality
that humiliates them." Similarly, if not equally, the perpetuation of racist stereotypes in the
numerous productions that confront us, whether in media, images, textbooks, education, or
various other places, operating in political and pedagogical dimensions, culminates in a
corrupted and inferiorizing perspective.
While we think about race and highlight blackness, it becomes necessary to bring to
light that even though blackness is experienced and lived only by black individuals, it is not
exclusively conceived by them. The political, social, cultural, and historical interferences
already highlighted here expose how the identities of black individuals are constantly
interpellated by racist stereotypes created and consolidated by whiteness as a strategy of
domination. Therefore, while we discuss blackness, white individuals need to understand the
structuring of their historically idealized racial identity at the expense of others.
Many white individuals engaged in anti-racist activism today can
acknowledge that all whites (as well as all within a white supremacist culture)
have learned to overvalue "whiteness," just as they have learned to devalue
blackness (HOOKS, 2019, 50, our translation).
The constitution of blackness is marked by numerous painful hurdles, immersed in racist
stereotypes, limitations, and strategies of domination and subordination. It becomes clearer
how, conversely, whiteness is idealized in positivity and valorization. In a way, at times, talking
about blackness evokes discussions about pain and sorrow; however, we must consider other
ways of announcing black racial identity beyond recurring stereotypes. Bell Hooks (2019)
recounts her experiences in the classroom with students who were constantly more interested
in discussing the self-hatred of black people and the longing for whiteness than talking about
the possibilities of embracing the blackness they carried.
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This is indeed understandable, considering that most of the time, the narratives
constantly accessed to work with blackness are cruel, whether it's the history class, which does
not present Africa or the contributions of black African peoples to the world, but only slavery,
or the film, imagistic, journalistic narratives that insist on using stereotypes in presenting
blackness. "In a white supremacist context, 'loving blackness' is rarely a political stance
reflected in everyday life; when mentioned, it is treated as suspicious, dangerous, and
threatening" (HOOKS, 2019, 47, our translation). Loving blackness, besides being challenging
due to the search for positivity in narratives, is "scary" because it would mean taking ownership
of being "other" and marginalized. "Racism has produced a blurred self-image, impairing the
most fundamental ability to love self-love," expresses Brazilian researcher Lucas Motta Veiga
(2019).
Loving blackness, as highlighted by Hooks (2019), in racist societies, indeed faces the
difficulty of dealing with (others') hatred, since understanding oneself as a black person implies
understanding how susceptible one's body is to violence and oppression. According to data from
the 2021 Violence Atlas of Brazil, coordinated by Daniel Cerqueira (2021), black bodies still
represent the majority of homicide victims.
In 2019, blacks (the sum of blacks and browns in the classification of the
Brazilian Institute of Geography and Statistics - IBGE) represented 77% of
homicide victims, with a homicide rate per 100,000 inhabitants of 29.2.
Comparatively, among non-blacks (the sum of yellows, whites, and
indigenous peoples), the rate was 11.2 per 100,000, meaning that the chance
of a black person being murdered is 2.6 times higher than that of a non-black
person. In other words, in the last year, the rate of lethal violence against black
people was 162% higher than among non-blacks. Likewise, black women
represented 66.0% of all murdered women in Brazil, with a mortality rate per
100,000 inhabitants of 4.1, compared to a rate of 2.5 for non-black women
(CERQUEIRA et al., 2021, p. 49, our translation).
Loving blackness clashes with the fear of losing one's life. According to the infographic
prepared by the Brazilian Forum on Public Security, 85.3% of black men fear being murdered,
and 78.5% of white men share the same fear. About 69.2% of individuals belonging to the black
community express fear of becoming victims of violence perpetrated by the Military Police,
compared to only 53.9% of white men. The observation sustains this fear that 84% of people
killed as a result of police actions are of black origin. According to the data presented in the
infographic, in the year 2021, black women represented 52.2% of victims of rape and vulnerable
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rape, 70.7% of victims of intentional violent deaths, and 62% of victims of femicide. With a
difference of 13.3%, black women suffer more harassment.
Loving blackness becomes complex when it highlights the sorrows that have crossed
bodies. Veiga (2019, p. 147, our translation), in discussing the importance of decolonizing our
society, emphasizes that
[...] decolonizing involves shattering old cultural, intellectual, and political
sedimentations and, more than rescuing, creating a sense of self-worth about
oneself and the people to whom one belongs. We belong to the people who
created mathematics, philosophy, medicine, samba, jazz, blues, rap, funk,
vogue, hip hop, the pyramids of Egypt […].
Undoubtedly, there is much to love about blackness; however, the social structuring
rooted in racism causes black racialization experiences to be imbued with many sorrows.
I went through several occasions in adolescence and adulthood where I was
stopped by the police for appearing 'suspicious,' or for fitting some
description, while doing normal things that people do every day, like going
home or walking to the market. Authorities, like civilians, treat you with
extraordinary suspicion if you are occupying a space where they do not expect
your presence (BOLA, 2020, p. 115, our translation).
The social structuring rooted in racism makes self-love for the racial identity of non-
white individuals difficult, causing experiences of black racialization to be fraught with many
sorrows. Media representations, spaces designated for black people, and the meanings and
narratives attributed to the black population create barriers to loving oneself fully. However,
political, social, and cultural movements increasingly destabilize the status quo, breaking
stereotypes and providing opportunities for reframing blackness. If the media and images have
been and are capable of perpetuating racism, today more than ever, they are also seen as a tool
of resistance. Serialized productions, films, and artists with non-stereotypical representations
of black people offer possibilities for (re)existence and the construction of the subjectivity of
non-white populations.
Brazilian researchers Andrey Gabriel Souza da Cruz and João Paulo Baliscei (2021)
problematize the character Eric Effiong, a black, gay, and effeminate character from the series
"Sex Education," and evoke how the construction of a character accentuated by intersections
can be formed by avoiding numerous stereotypes, presenting new narratives for bodies that
embody diversity.
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[...] dealing with blackness is unfortunately well ingrained in presenting
sorrows and sufferings, when we encounter the representations of Eric Effiong
and begin to see a certain appreciation and love for blackness, we contemplate
the possibilities of recognition and positive presentation that serialized
production can bring to black audiences. This type of representation is also
necessary for the development of white individuals who need to learn to deal
with and coexist with dissent, not attributing to them fixed, limiting, and
stigmatized narratives based on their race or other social markers (SOUZA
DA CRUZ; BALISCEI, 2021, p. 419, our translation).
Analyzing Ethan Clade as a cultural artifact representing blackness and non-
heterosexuality, and as a cultural pedagogy capable of presenting ways of being, thinking, and
acting, we question whether it is possible to distance ourselves from the stereotypes created and
consolidated by the prevailing racist and homophobic ideology to the extent that the character
becomes a possible reference for consumers. According to Teruya (2008, p. 6, our translation),
"animated films act as new 'teaching machines' in a more persuasive way, as they tell
compelling stories that help children understand themselves through entertainment, we question
the possible lessons from "Strange World."
"Impressing this guy" - Masculinities and Affects> analysis of interactions between male
characters
Understanding that images transcend the idea presupposed by the common sense of
merely serving as entertainment, when, according to researchers in the field, they operate
pedagogically on individuals, capable of representing, teaching, delimiting actions, ways of
thinking, feelings, and numerous influences, we note the importance of problematizing images
beyond their aesthetic and contemplative character. Spanish researcher Martín-Barbero (2000,
p. 55, our translation) highlights how "the school has ceased to be the only place of legitimation
of knowledge, as there is a multiplicity of knowledge circulating through other diffuse and
decentralized channels", thus, we are constantly immersed in learning that shapes people's
subjectivity and identity, and criticality towards the media becomes increasingly necessary, as
it is among those responsible for the circulation of knowledge and teachings.
The expansion of ways of seeing, problematizing, and producing knowledge has been
enhanced by Cultural Studies, according to researcher Luciana Borre Nunes (2010). The
contributions of this field of research have contributed to the destabilization of a single
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reference in cultural studies, thus allowing various minority social groups to initiate dialogues
and discussions about their participation and roles in the social body in their different ways of
being and acting in the world.
Cultural Studies presents their primary conception of the discussion of culture.
They study the cultural manifestations of groups that have had, or still have,
for a long period of our history, their voices silenced by the supremacy of
groups considered hegemonic. Their authors focus on issues regarding the
constitution of identities inserted in systems of representation. They also
address the social relations intertwined with power and the cultural artifacts
and pedagogies that contribute to our formation (NUNES, 2010, p. 18, our
translation).
In this way, dialogues about identities constituted through cultural interactions and
crossings are broadened. The knowledge that intersects with Cultural Studies, such as Ethnic-
Racial studies, feminist studies, gender studies, masculinities, sexual diversity, and related
fields, have also gained relevance, using images and representations as epistemic objects and
pathways, given the constructivist action they encompass.
Therefore, the sharing of culturally constructed meanings and significances is a broad
and necessary investigative field, especially when the monopoly by hegemonic groups and the
constant struggles for the meanings attributed to images, people, and the like are highlighted.
According to Hall (2016, p. 31, our translation), "Representation is an essential part of the
process by which meanings are produced and shared among the members of a culture.
Representing involves the use of language, signs, and images that signify or represent objects."
Representations are thus rooted and overflow cultural views, so we must question from which
lens such representations have been produced, which lens is "universalized" in society for
people to decode and signify in unison,
One of the most important contributions brought by the debate instituted by
Cultural Studies, Visual Culture Studies, and Feminist Studies to our ways of
seeing and interpreting artistic images is how these images cannot simply be
seen as a "reflection" or "communication" of what happens in the world; they
are continually, constantly producing meanings for this world, having direct
effects on our everyday practices and, more specifically, on how we live and
perceive our own sexual and gender identities (LOPONTE, 2010, p. 153, our
translation).
From this amalgamation of fields of study, we move towards analyzing two scenes from
the animated production "Strange World" focusing on Ethan Clade's relationship with other
Masculinities in a “Strange World” - Disney and the positive representation of non-heterosexual black men
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white male characters. As a methodological approach, we use analytical procedures called
PROVOKE, Problematizing Visualities, and Questioning Stereotypes (BALISCEI, 2020). The
propositions arising from PROVOKE, which is also structured from Visual Culture Studies and
Cultural Studies, guide a path that the author calls "critical and inventive visual investigations"
(BALISCEI, 2020, p. 62, our translation). Similarly, Tourinho and Martins (2011) advocate for
a critical view against what we observe, as opposed to a passive and accommodated vision,
titled a tacit vision.
In accordance with PROVOKE (BALISCEI, 2020), the selected cultural artifact, the
animation "Strange World," and more specifically, the character Ethan Clade, are critically
analyzed and problematized based on theoretical contributions from studies on race, gender,
and sexuality. The analytical framework directs us to seek out stereotypes in animations, not
only regarding the visual construction of characters but also concerning expectations about
black and male bodies.
Having an understanding of experiences in a stratified
14
and hierarchized society, as
well as the recurrence of certain representations, especially of bodies identified as dissident,
relationships, and performances, we seek and problematize with/in Ethan Clade the presence,
presentation, or flirtations with stereotypes. As João Paulo Baliscei (2020, p. 69, our translation)
explains, from stereotypes, "[...] visual representations simplify differences, adjusting them
according to hegemonic values, aesthetics, and interests and contribute to constituting symbolic
boundaries from which the 'abject' is separated from the 'norm'".
PROVOKE, the methodology used, presents itself as a "pre-route" for the development
of problematizations concerning images, providing indicators of "stops" where we can exercise
critical thinking regarding what visually and narratively engages us. Structured in five stages:
Flirting, Perceiving, Alienating, Dialoguing, and Sharing. These points connect and provide an
opportunity for visual analysis that encompasses the various discursive performances that the
production may have (BALISCEI, 2020). Flirting with the character Ethan Clade, we find
intersecting crossings that pique our interest in analyzing the construction of his narrative in the
animation. Presented as a black, non-heterosexual teenage male, explorer, and
environmentalist, Ethan deals with and expresses his feelings with an apparent naturalness and
14
The production "Strange World" (2022), by Walt Disney, originates from the United States and is undoubtedly
influenced by cultural trends from the global North. However, globalization and cultural hybridization allow for
analyses from decolonial perspectives. The "exchange" between oppressions enables us to engage in dialogues
about violence from different cultural viewpoints. We also emphasize how the film inaugurates a new and distinct
society, Avalon.
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youthful "awkwardness" of someone who is in love, here, with another boy, allowing us to
initially notice deviations from recurring stereotypes in representations of young black men, as
Bola (2020) highlights.
Regarding physical visualities and gender-denoting technologies such as clothing, we
observe that Ethan Clade is not constructed based on visualities that could be interpreted as
"atypical" to hegemonic masculinity (CONNELL, 1995), aside from his skin color. He wears
clothes and colors commonly associated with masculinity. However, his non-heterosexuality
intensifies our flirtation with the character, who not only corresponds to our interests in dealing
with blackness and marginalized masculinity but also fits into Subordinated Masculinity
(CONNELL, 1995) due to his romantic interest in the supporting character Diazo (a boy with
a quiff and white hair presented in Figure 1), another non-white and non-heterosexual teenager
in the narrative.
The appearance of Diazo, whom Ethan has a romantic interest in, provides us with the
first scene to be analyzed. According to Baliscei (2020), in PROVOQUE, what destabilizes or
differs from recurring stereotypes can provoke strangeness and generate questions. The
interaction among the three male characters in the compiled scenes in Figure 1 not only allows
for a visual evaluation, showing a plurality of skin tones, but also portrays a naturalness in
dealing with homosexual affection. When faced with the boy his son is in love with, Searcher
Clade, a white man, engages in a lighthearted narrative, spending his time on screen conversing
with the young man and speaking positively about his son Ethan's attributes, almost as if
strategizing to help him win over his beloved.
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Figure 1 - Comprised of 9 Print Screens
Source: Screenshots from the animation "Strange World" (2022), referring to approximate timestamps
between 11'00'' and 12'10'' located on the Disney Plus streaming platform
Focusing on Searcher Clade, we emphasize his whiteness, thus, it becomes valid to
highlight again how Ethan Clade is the result of an interracial relationship between Searcher
and Meridian Clade, a black woman. Searcher's appearance in the scene and his interaction with
the non-white youths, in terms of masculinities relations, could immediately lead us to a
hierarchization of bodies, considering that as a white, adult, heterosexual male, Searcher could
operate as Hegemonic Masculinity (CONNELL, 1995). Even before denoting his heterosexual
relationship, Searcher's white body, upon contact with "others," could evoke visible
distinctions. However, the context of the animated narrative deviates from these positions,
attributing affection and acceptance to the character in the face of what is not normative, a
homoaffectionate romantic interest. Although there is a constant opposition between black and
white bodies, the appearance of Searcher Clade and all the acceptance and affection expressed
in the scene make the hierarchizations of bodies "opaque," however, we cannot forget how the
white image is always positively portrayed.
White racial identity is associated with various positive predicates, such as
cultural superiority, aesthetic beauty, moral integrity, economic success, and
healthy sexuality. Obviously, there is a parallel process of constructing other
racial groups as necessarily inferior people. Blackness arises from the negative
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attribution of African populations' moral characteristics and phenotypic traits
(MOREIRA, 2019, p. 42, our translation).
Framing this generational, racial, and sexual diversity in light dialogues and visualities
immersed in affection appears to us as a valid and well-executed strategy to normalize
"differences"/non-normativity. As they walk away from Ethan's beloved, the dialogue between
father and son also presents us with an exercise in normalizing affections. Searcher, the father,
excited to finally meet the young man his son was in love with, narrates how he dealt with his
passions when he was younger, using an apparent strategy to reassure him about his love. The
selection of scenes of interaction between father and son, in Figure 1, allowed us to contemplate
a certain destabilization of the normative, acceptance, and naturalization of homoaffections by
the father and a position far from a hegemonic mentality by an adult, male, white figure. In a
way, this series of actions lead us to idealize even a rupture with what Bento (2011, p. 552, our
translation) calls "heteroterrorism," as
[...] the reiterations that produce genders and heterosexuality are marked by
continuous terrorism. There is heteroterrorism in every statement that
encourages or inhibits behaviors, in every insult or homophobic joke. If a boy
likes to play with dolls, heteroterrorists will assert: "Stop that! That's not
something boys do!". With every reiteration from the parent or teacher, with
every "boys don't cry!", "act like a girl!", "that's gay stuff!", the subjectivity
of the one who is the object of these reiterations is undermined.
In Figure 2, the contact between masculinities occurs between our object of analysis,
the teenager Ethan Clade, and his grandfather, Jaeger Clade, a 60-year-old white man. In the
animation's narrative, Jaeger, the patriarch among the Clades, is a great explorer, portrayed with
a robust body, voluminous mustache, and a penchant for adventures. Their physical
characteristics and personality attributes lead us to attribute him a Hegemonic Masculinity
(CONNELL, 1995), although his age characteristic may distance him somewhat from
hegemony. At numerous moments in the narrative, Jaeger's fondness for aggression and
violence is evident, and alongside his grandson, Ethan, the differences between masculinities
are not only shown in visuality, but also given by a juvenile black body and a large, adult white
body.
After meeting his grandson, whom he has not seen grow up, Jaeger seeks to attribute
typically masculine traits to Ethan, such as a taste for fighting, hunting, and danger. During the
narrative, the grandfather asks if the teenager has any "crush", or any romantic interest, and
upon realizing that the teenager nurtures affection, the grandfather asks, "Who is it?", without
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room for "Who is she?", in a normative heteroterrorist logic that prescribes that men should
only nurture romantic interests in women. The gender neutrality in the question seems to be a
movement that breaks with expectations attributed to masculinity stemming from
heteroterrorism/compulsory heterosexuality.
Figure 2 - Composed of 9 screenshots
Source: Screenshots from the animation "Strange World" (2022), approximately between 50'03'' and
50'59'' timestamps located on the Disney Plus streaming platform
The narrative that follows, stemming from the grandfather's question, continues to
provide positive strangeness. Ethan exposes his passion for Diazo to the patriarch, and the
grandfather immediately enthusiastically gives him advice on how to "impress that guy." At no
point in the interaction between these male individuals do we identify discomfort or reproach
towards Ethan's expressed homoaffection. The naturalization of the teenager's non-heterosexual
sexuality by the older character, who, based on the adjustments raised here, presents us with a
hegemonic masculinity (CONNELL, 1995) that would repudiate other masculinities and is
constituted by racism, machismo, misogyny, and LGBTphobia, once again fosters the
idealization of images that destabilize stereotypes and provide possibilities for being, existing,
and relating with diversity.
Another interesting point in the narrative and the visuality of the encounter between
Jeager and Ethan Clade revolves around one of the objects that basically becomes part of the
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grandfather's imagery composition, a flamethrower gun. In our society, the weapon object takes
on significant contours with the raciality of the one who carries it. In recent years, under the
government of former Brazilian President Jair Bolsonaro (1955 --), who advocated for more
liberal access to firearms and facilitated it, the number of hunter, shooter, and collector (HSC)
registrations nearly doubled
15
. The attached discourse was always about "ensuring greater
freedom and security" for the "law-abiding citizen," a category constantly evoked in
conservative discourses.
As we think about weapons, and their meanings regarding "security," violence, and
masculinity, it is necessary to emphasize race, considering that in the Brazilian conservative
discourse, the "law-abiding citizen" who carries arms for "defense" must at least be white, to
avoid social strangeness and fears, since even unarmed black bodies arouse fears and tragic
outcomes, such as the recent case of Dierson Gomes da Silva
16
, a 51-year-old black man
identified as a recycling collector with intellectual disabilities, who had his life taken away in
a military police operation in Cidade de Deus, Rio de Janeiro, after being shot in his backyard
for carrying a piece of wood that caused "confusion" among the police.
The Police Corporation expressed in a statement that "a team encountered a man
carrying what appeared to be a rifle, slung over a strap. The officers fired shots and hit him.
The injured did not survive
17
. Weapons and masculinities clearly interact and intertwine with
race, as the unarmed black body is shot down without question, perhaps the black "law-abiding
citizen," armed, with the intention of enforcing what former President Jair Bolsonaro advocates
as a means of preserving integrity, would have even less time to live.
To contemplate Jaeger with a weapon and hear his speeches that flirt with aggression,
in a way, once again direct us to frame this character within Hegemonic Masculinity
(CONNELL, 1995). On the other hand, Ethan, showing aversion to some of the commands and
displaying an apparent peaceful personality, although manifesting a certain fascination with his
grandfather's weapon, seems to occupy and embody Subordinated and Marginalized
Masculinities (CONNELL, 1995). However, despite the hierarchical nature of masculinities
exposed by Connell (1995) with the Politics of Masculinity, which reveals the violence faced
15
According to data from the Public Security Yearbook, the number of gun licenses actually increased by almost
five times. Read more at: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/28/licencas-para-armas-crescem-
quase-cinco-vezes-no-governo-bolsonaro-exercito-tem-674-mil-autorizacoes-ativas-mostra-anuario.ghtml.
Accessed on Jan 6, 2023
16
Read more at: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/01/06/meu-tio-foi-assassinado-pelo-estado-
diz-sobrinha-de-catador-morto-pela-pm-em-operacao-na-cidade-de-deus.ghtml. Accessed on Jan 6, 2023
17
Read more at: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/01/05/catador-de-reciclaveis-e-baleado-na-
cidade-de-deus.ghtml. Accessed on Jan 6, 2023.
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by those who do not occupy hegemony, Ethan's representation, distant from the norm, is not
disqualified or associated with racist stereotypes, such as animality, ignorance, criminality,
among other limiting stereotypes (BOLA, 2020; HOOKS, 2019; KILOMBA, 2019), nor to
LGBTIphobic stereotypes.
In both analyzed scenes, his interest in another boy is not ridiculed, judged, reproached,
and much less causes astonishment. His masculinity, accentuated by his race, with the
highlighting of phenotypic traits of black people, such as skin color and hair, during the
narrative from our perspective, does not present or rely on racist stigmas. Thus, a possible and
positive representation of black youth is created, experiencing self-discovery and ordinary
adolescent issues, such as the difficulty of expressing romantic interest, not due to social,
cultural, or familial impediments. We contemplate a potentiality in Ethan Clade's image as a
positive reference for black and non-heterosexual experiences. We also observe the
deconstructive impact on white individuals, who have also internalized fixed and subordinate
narratives for dissenting bodies from the norm, as expressed by Souza da Cruz and Baliscei
(2020, p. 115, our translation),
[...] The representations and images we consume collectively direct our gaze
and contribute to our perception of positions, social status, intellects,
purchasing powers, and other commendable characteristics as inherent to
specific races, genders, and sexualities.
Encountering the representation of a character that does not conform to internalized
stereotypes not only provides possibilities of (re)existence for black consumers but also breaks
away from the segmentations of whiteness that structurally uphold society. Understanding the
political and pedagogical content of images, this article uses the animation "Strange World,"
which brings us to what Teruya (2008) suggests, exposing how subjectivities and identities are
also constructed based on our media consumption. Therefore, consuming and engaging with
productions that break stigmas allows us to envision a healthier future not only for minorities
and dissenting groups but also for those who conform to the norm, enabling them to see beyond
the lenses that elevate them.
Andrey Gabriel Souza da Cruz; Teresa Kazuko Teruya and Eliane Rose Maio
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Final considerations
The animated production "Strange World," featuring Ethan Clade, has become almost
synonymous with "an ideal world." In the narrative and in the interactions of the character with
his family members, we see a constant normalization and valorization of dissenting experiences.
We observe the possibility of finding black and non-heterosexual bodies in protagonism, far
from the recurrence of racist stereotypes and stigmas, loving and being loved. Ethan not only
evokes the possibility of love and affection between individuals of the same gender but also
demonstrates the naturalness that we can and should achieve regarding social interaction with
people's feelings.
Its imagetic representation presents us with the contemplation of a black body detached
from sad and humiliating narratives, recurring plots in movies and audiovisual works featuring
black individuals. It is understandable that part of recent audiovisual productions operates in a
strategy to denounce the hardships experienced by the black population, sometimes
highlighting the geographical and economic marginalization affecting black individuals and
peripheral experiences affected by government neglect and crime. However, the lack of
presentation of other possible narratives, in a constant exercise of denunciation, may inhibit
black individuals (children) from embracing/imagining themselves in other narratives, light and
happy ones, like that of Ethan Clade, an explorer, an ecologist who loves and is loved.
Imagining narratives beyond suffering becomes urgent for black individuals and the
construction of healthy subjectivities and identities.
The creation of characters with whom ethnic, racial, sexual, and other minorities can
recognize themselves and envision access and existence is crucial. Ethan Clade, therefore,
proved to be such, in addition to destabilizing an illusory conception of the "real man" that
perpetuates violence against the non-normative. The construction of the protagonist as a
teenager, male, black, and non-heterosexual, evokes existence. The cultural artifacts we
consume not only reflect the hegemonic ways of seeing and thinking in society but also have
the ability to bring to light what is marginalized and subalternized, adjusting our perceptions
and valuing what would have been neglected and downplayed before. Ethan's imagetic
representation is preceded by the existence of people like him; in other words, there are many
Ethans in society, and such bodies need and have the right to recognize themselves positively
in the media.
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We understand that this article does not exhaustively analyze the object under study.
The critical reading of the two selected scenes was based on a specific criterion that aimed to
problematize masculinities and Cultural and Visual Studies. With other perspectives, "Strange
World" will offer many analytical paths. However, we chose to dissect the male interactions
within the same family, revolving around the same subject, the possibility of love between male
characters. Ethan Clade undoubtedly embodies what many non-heterosexual black boys and
men dream of: the possibility of existing, living, and feeling their love without fears or concerns
about acceptance.
ANALYSIS CORPUS
STRANGE WORLD. Directed by Don Hall, Qui Nguyen. Production: Walt Disney
Animation Studios. 2022. Disney Plus Streaming (1h and 42min.).
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CRediT Author Statement
Acknowledgements: The State University of Maringá and the Graduate Program in
Education/UEM.
Funding: There was no funding for the construction and elaboration of this article;
however, we highlight that author Andrey Gabriel Souza da Cruz is a CAPES scholarship
holder in the Graduate Program.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest of a personal, commercial,
professional, institutional, and/or academic nature among the parties involved in this article.
All individuals involved are in agreement with the publication of the production.
Ethical approval: Since this was qualitative research using a bibliographic approach, the
Research Ethics Committee was not needed to approve it.
Data and material availability: The data used, as well as the object of analysis, are duly
referenced.
Author’s contributions: Andrey Gabriel Souza da Cruz conducted the writing of the
article, conceptualizing, and analyzing the selected study object. Teresa Kazuko Teruya and
Eliane Rose Maio supervised, guided, and revised the production.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.