Cultura juvenil contemporânea, práticas culturais e ciberespaço: Contornos geográficos da cultura juvenil otaku no Brasil
Revista Geografia em Atos, Presidente Prudente, v. 7, n. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 1984-1647
DOI: https://doi.org/10.35416/2023.8831 18
transformação no patamar de um aniquilamento”. Sem falar que, a internet não é o único meio
de se acessar o espaço virtual, aliás:
[...] é certo que existe um potencial muito grande para que a internet seja a
grande forma definidora de conexão dentro do ciberespaço, mas as
telecomunicações “tradicionais”, bem como a propagação de ondas de rádio e
televisão ou mesmo o complexo de dados trafegados por meio de satélites que
possibilitam o fenômeno das tevês por assinatura, ainda perfazem um grande
percentual do ciberespaço. Isso tudo porque, eles trafegam informações e
conectam pessoas e lugares, especialmente em tempos de interatividade entre
espectadores e mídias [...] Quando ocorre a junção de todos os meios em uma
única plataforma cuja conexão entre os diversos usuários independe
necessariamente de escolhas editoriais, políticas de acesso à informação,
dentre outros, um novo universo de experiências (espaços) e expectativas
(horizontes) é lançado a todo potencial usuário das redes telemáticas (SILVA,
2013, p. 49-50).
Esta singularidade do ciberespaço apresentada é resultado de um leque extenso de
formas de conectividade e sociabilidade, totalmente desdobramento das que ocorrem no espaço
offline. Sua base material é determinada e altera as roupagens dos processos de troca social.
Silva (2013, p. 51) mesmo, compreende que as “[...] particularidades materiais do ciberespaço,
tentando entendê-las em sua estrutura de objetos técnicos, é interessante fazer uma volta em
busca não dá materialidade dos objetos técnicos em si, mas sim, de sua essência”. Vemos o
mesmo sentido nas discussões realizadas pelo geógrafo Milton Santos (2002), quando defende
que a relação fundamental entre o humano e o meio que cria o espaço geográfico é a técnica. E
desta forma, Silva (2013, p. 53 e 54), afirma que:
[...] deve-se inserir as análises acerca do ciberespaço, não como um elemento
técnico a parte do meio geográfico, nem tampouco como uma nova realidade
espacial apenas. Ele é um meio que, em essência, desabriga o espaço enquanto
tal, dando-lhe um novo sentido, estruturado através de objetos técnicos em
rede, ampliando o espaço; ele é o próprio meio técnico e um meio geográfico.
Apesar de, em concordância com Silva (2013), sabemos que “[...] o controle da
produção e distribuição de objetos técnicos e da arquitetura das redes de conexão, que hoje
possibilitam o acesso de pessoas ao ciberespaço, é condicionado, em regra, por interesses
estritamente comerciais ou governamentais” (SILVA, 2013, p. 60). Todavia, as redes devem
ser destacadas e operacionalizadas ao buscarmos o movimento real do fenômeno otaku, uma
vez que, para se acessar a internet, necessita-se de um suporte concreto e técnico. Aliás, o
ciberespaço só tem existência a partir de seu suporte de objetos técnicos, sendo assim, os fluxos
informacionais trocados diariamente, também possuem sua dimensão material. Assim como no
espaço material, o espaço “virtual” estruturado em redes possibilita a extensão das relações