Victor Dantas Siqueira PEQUENO
Revista Geografia em Atos, Presidente Prudente, v. 7, n. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 1984-1647
DOI: https://doi.org/10.35416/2023.9553 9
(disputa) com a mãe e/ou pai, sendo que para os autores, o pênis (falo) era o principal
instrumento simbólico que orientava essas experiências (TILIO, 2014).
De maneira resumida, em determinada fase do desenvolvimento psicossexual,
os meninos (por possuírem pênis) se identificam amorosa e eroticamente com
a figura materna (por naturalmente desejá-la por ser mulher) e rivalizam com a
figura paterna (por disputar a mãe consigo e repudiar as inclinações
homossexuais), o que os direciona para uma postura heterossexual masculina
típica (amor e inclinação sexual pelas mulheres; rivalidade e rechaço sexual
pelos homens); por sua vez, as meninas (não possuidoras do pênis) se
identificam amorosamente com o pai (portador do pênis e, portanto, passível
de ser desejado pelas mulheres, além de poder fornecer no futuro a
complementaridade que as mulheres tanto desejam: um filho) e com a mãe (que
captou o desejo do pai mesmo, sendo incompleta, pois também lhe falta o
pênis/falo) ao mesmo tempo em que rivalizam com a mãe (que detém os
interesses do pai), inclinando-se, portanto, ao amor pelos homens e desinteresse
sexual pelas mulheres (TILIO, 2014, p. 130-131).
Segundo Tilio (2014), essa noção seria o fundamento do que se conhece como
Complexo de Édipo e, portanto, qualquer alteração identificada, ou seja, o interesse sexual da
menina por outra menina, ou do menino por outro menino, tal situação seria significada como
desvio do normal, em outros termos, desequilíbrio no desenvolvimento pulsional e anímico.
Em suma, tanto Freud como Lacan partem do pressuposto de que o pênis/falo
é a norma orientadora da vida psíquica e que os homens, por possuírem pênis,
possuiriam certas vantagens sobre as mulheres (invejosas do pênis e
necessitadas de se ligarem a alguém que o possua) e que as identificações,
para serem normais e salutares, devem seguir um padrão complementar
calcado na heterossexualidade (TILIO, 2014, p. 131).
Isso em vista, Tilio (2014), enfatiza que os primeiros estudos da psicanálise reforçaram
a biologia humana em seu processo de diferenciação dos corpos colocava em movimento
(disputa) a inteligibilidade e uma sociedade generificada. Nessa mesma direção, Sartori e
Mantovani (2016, p. 168), argumentam:
Guardadas suas peculiaridades, os dois autores citados [Freud e Lacan], ao
recorrerem à primazia do falo, apoiando-se na dimensão biológica como
determinante da importância e da posição privilegiada do sexo masculino,
naturalizam uma feminilidade desvalorizada, representada pela ausência do
falo – como se consistisse em uma masculinidade frustrada.
c) Da perspectiva construcionista social
Joan Scott assume o protagonismo teórico no que tange às proposições feministas sobre
o gênero orientadas pelo método construcionista. A autora fundamentou-se nas contribuições
de Derrida e Foucault para encaminhar suas reflexões. É a partir de Scott, mais precisamente,